17 outubro 2012

O Problema da Escolha no Mundo Infinito de Opções

"Eu estava chateado porque não tinha fax no carro, até que vi um homem que não tinha celular."

O psicólogo Barry Schwartz discute, em seu livro Paradoxo da Escolha,  o dogma oficial das sociedades industriais ocidentais: "Se quisermos maximizar o bem-estar dos nossos cidadãos, o caminho é maximizar as liberdades individuais."

A sua crítica começa da seguinte maneira: em geral, partimos do pressuposto de que mais opções ampliam as nossas alternativas e nos possibilitam um grau maior de satisfação.

É preciso refletir sobre a quantidade dessas opções em termos da nossa liberdade individual e de nossa autodeterminação. Qual o limite em que o mais se torna prejudicial?

Quer queiramos ou não, há um mundo infinito de opções à nossa frente. Quando estamos comprando uma calça jeans, alimentos para a nossa refeição, buscando uma escola para os nossos filhos... estamos exercitando a escolha.  

O economista, filósofo e ganhador do Prêmio Nobel, Amartya Sen, no livro Desenvolvimento como Liberdade, distingue a importância da escolha, em si, do papel funcional que ela desempenha em nossas vidas. Em vez de incentivar a postura fetichista com relação à liberdade de escolha, devemos perguntar a nós mesmos se ela nos fortalece, ou nos rouba, se nos dá mais mobilidade ou nos cerceia, se aumenta ou diminui o respeito próprio e se possibilita ou impede nossa participação na vida da comunidade. 

11 recomendações para um boa escolha:

1) Escolha quando escolher;

2) Aprenda a escolher, não seja um catador;

3) Contente-se mais com o suficientemente bom e maximize menos;

4) Pense nos custos de oportunidade dos custos de oportunidade;

5) Tome decisões irreversíveis;

6) Cultive uma "atitude de gratidão";

7) Arrependa-se menos;

8) Antecipe a adaptação;

9) Controle as expectativas;

10) Reduza a comparação social;

11) Aprenda a gostar das restrições.  

Fonte de Consulta

SCHWARTZ, Barry. O Paradoxo da Escolha: Por que Mais e Menos. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Girafa, 2007.

 


26 setembro 2012

Democracia

O termo “democracia” assumiu, ao longo do tempo, uma vasta e imprecisa significação. Na sua acepção mais vulgarizada, forma de governo em que a soberania deriva do povo e é exercida pelo povo.

Na Antiguidade e na Idade Média, o termo “democracia” reportava-se a uma das três formas de governo (um, poucos e muitos), estabelecidas por Aristóteles (384-322 a.C.). Na sua forma positiva, tínhamos a monarquia (poder se concentra em uma pessoa), a aristocracia (poder se concentra em poucas pessoas) e democracia (poder se concentra em muitas pessoas). Na sua forma negativa, aparecia a tirania (excesso de poder de um), a oligarquia (excesso de poder de poucos) e demagogia (excesso de poder dos muitos).

Na Idade Moderna e Contemporânea, o foco da democracia passou a ser uma atitude política, voltada contra a presença do absolutismo e do totalitarismo, que cerceiam a liberdade das pessoas. Entre os defensores da liberdade e da igualdade, temos: Locke, Kant, John Stuart Mill, Kant etc. O objetivo era dar autonomia ao ser humano, fazê-lo pensar por si mesmo, consoante o sapere aude! kantiano. Ou seja: “ouse saber"; "tenha a coragem de usar o seu próprio entendimento".

Há muitas fundamentações que justificam a democracia na atualidade. A primeira justificação deu-se em presença do absolutismo: reivindicação da liberdade (Locke, Kant e Mill); depois, a reivindicação da igualdade (Rousseau e Marx). A segunda justificação deu-se em presença do totalitarismo: em oposição aos Estados totalitários por ideologia, os teóricos da democracia a vinculam à ciência ou à religião, no sentido de que a democracia, segundo alguns, é a aplicação do método cientifico à vida política (Dewey, Russell e Popper) e, segundo outros, é a manifestação do espírito evangélico na vida política (Bérgson, Maritain, Mounier). (1)

A democracia deve ser a política caracterizada por “regras”: sufrágio universal, governo da maioria sobre a minoria, possibilidade de alternância. De acordo com Bérgson, os ideais de liberdade e igualdade podem ser alcançados através da fraternidade. Em vista do crescente multiculturalismo, a tolerância também deve entrar em cena. Popper concilia liberdade e autoridade, dizendo: “Temos necessidade de liberdade para evitar os abusos do poder do Estado”, e também temos “necessidade do Estado para evitar os abusos da liberdade”, conscientes, aliás, de que “esse problema jamais será completamente resolvido”.

A democracia tem um papel muito importante na promoção do bem-estar social e na conquista da autonomia dos indivíduos, a fim de que as pessoas sejam sujeitos do governo e não instrumentos de poder.

(1) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.


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A democracia Ateniense

O fundamento do regime democrático é a liberdade.

Uma característica da liberdade é ser governado e governar por seu turno. Com efeito, consistindo a justiça democrática em ter todos o mesmo, numericamente e não segundo o merecimento, forçosamente tem de ser soberana a multidão e aquilo que é aprovado pela maioria tem que ser justo. Na democracia, os pobres têm mais poder que os ricos porque são mais numerosos e o que prevalece é a opinião da maioria.

Outra característica é viver como se quer; pois dizem que isto é resultado da liberdade, já que o próprio do escravo é viver como não quer.  (Aristóteles, Política, 1.317a-1320b)