10 dezembro 2019

Nova Esquerda: Gramsci

Para E. J. Hobsbawm, "Gramsci foi um filósofo extraordinário, talvez um gênio, provavelmente o mais original pensador comunista do século XX na Europa Ocidental". Segundo Norberto Bobbio, "se excetuarmos os grandes protagonistas da revolução soviética, não há personagem na história do movimento operário cuja personalidade e obra tenham despertado maior interesse que Gramsci". L. Althusser, por sua vez, diz: "quem realmente tentou investigar as elaborações de Marx e Engels? Só consigo pensar em Gramsci". 

O uso moderno do termo "esquerda " deriva da Assembleia dos Estados Gerais de 1789, quando, na França, a nobreza sentou-se à direita do rei, e o Terceiro Estado, à sua esquerda. Hoje, esses termos são aplicados a facções e opiniões em toda ordem política.

Antonio Gramsci (1891-1937) foi um ativista político, jornalista e intelectual italiano, um dos fundadores do Partido Comunista da Itália. Formulou o conceito de hegemonia cultural para descrever o tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, particularmente da burguesia sobre o proletariado.

Desde cedo participou da ala esquerda do Partido Socialista. Em 1915, abandonou os estudos de Letras na Universidade de Turin para se dedicar plenamente à política e ao jornalismo. Na elaboração do programa dos conselhos de fábrica, a sua maior realização foi a greve geral de 1920. Preso em 1926, e condenado a 20 anos de prisão, começa, em 1929, a redação dos Quaderni (Cadernos de Cárcere). Cumpriu 12 anos da pena, mas tão logo foi solto, morreu quatro dias depois, devido aos maus tratos na prisão. 

Gramsci entendia o marxismo como uma filosofia da praxis. O seu objeto é a historicidade radical das coisas e eventos. O histórico, para Gramsci, está centrado no projeto político, e a historicidade tem relação com a prática política: a revolução. "A filosofia da praxis pretende ser um saber rigoroso de ordem historiográfico-hermenêutico sobre o passado e o presente da sociedade burguesa, ao mesmo tempo que um projeto militante de auto-realização, existindo na forma da luta política" (1).

A valoração atual de Gramsci como pensador de esquerda, e a inclusão de suas obras em milhares de cursos universitários, como teórico político, revolucionário, crítico cultural e filósofo – "não é o resultado de uns poucos artigos acadêmicos, mas de um amplo movimento de aprovação, uma espécie de ânsia por orientação moral e intelectual, que destacou Gramsci como seu objeto, e que aderiu a ele desde então. Gramsci é a criação dos anos 1960, o símbolo de uma geração ávida por liderança, mas confiante somente naqueles que estavam seguramente mortos — preferivelmente mortos, como Gramsci, na interminável luta contra o inimigo "fascista"" (2).

Fonte de Consulta

(1) Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. 

(2) SCRUTON, Roger. Tolos, Fraudes e Militantes: Pensadores da Nova Esquerda. Tradução de Alessandra Bonrruquer. 3. ed., Rio de Janeiro: Record, 2018, capítulo 7.

  


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