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06 agosto 2020

Boulding e os Princípios de Política Econômica

"'Política' é a distorção deliberada do ecossistema em favor de objetivos do político." (Kenneth E. Boulding)

Kenneth E. Boulding (1910-1993), considerado um heterodoxo oficial por Juan Carlos Martínez Coll, publica, em 1958, o livro Princípios de Política Econômica, onde estuda o progresso econômico, a estabilidade econômica, a justiça econômica, a liberdade econômica, a política fiscal, a política monetária, a economia de guerra e paz, entre outros.

No prefácio, defende a existência de princípios, principalmente os princípios de economia. Para ele, não há distinção entre os princípios de economia e os princípios de política. O político que reflete sobre esses princípios se habilita a formar juízos mais prudentes sobre a arte de governar uma cidade, um estado, um país.

O que é política? Princípios que governam a ação dirigida para determinados fins. A política relaciona-se, assim, com: 1) que desejamos (os fins); 2) como consegui-lo (os meios); 3) e quem somos "nós", ou seja, qual a natureza da organização ou grupo interessado. Observe, também, que a ciência se preocupa mais com os meios do que com os fins.

Um tópico importante: o "teorema da banheira", ou seja, o fluxo de água num dado reservatório. Há água que chega, água que vai embora e água que fica como estoque. Assim, a adição total ao estoque de qualquer artigo, num dado período, deve ser igual ao número de artigos produzidos (criados), menos o número de artigos consumidos (destruídos).

Há, também, as identidades monetárias: 1) o estoque total de dinheiro deve ser igual à soma dos valores monetários em todas as contas particulares; 2) a quantia total do dinheiro pago por qualquer coisa é igual ao valor do que foi comprado, que, por sua vez, é igual ao preço multiplicado quantidade comprada.

Os princípios de economia nos ensinam que a renda média per capita não pode exceder a renda total dividida pelo total da população. Se aumenta a renda de um segmento da sociedade, então, ou a renda nacional deve ser elevada, ou a renda de outros setores deve ser diminuída. Este raciocínio é tão óbvio que a maior parte das pessoas se esquece de que ele é verdadeiro.

O Livro contém 17 capítulos, distribuídos em suas 500 páginas. Vale a pena conferir.

BOULDING, Kenneth E. Princípios de Política Econômica. São Paulo: Mestre Jou, 1967.

 


26 outubro 2011

A Desigualdade da Renda é Boa ou Má?

Tese: As rendas deveriam ser iguais se todos os homens fossem semelhantes.

Não é correto reivindicar que todos devam ter rendas iguais. Para explicar esse raciocínio, temos de nos valer da utilidade marginal da renda. Inicialmente, façamos a hipótese de que possamos atribuir números à utilidade da renda de cada pessoa. A utilidade marginal da renda é a mudança na utilidade total que resulta de uma mudança de unidade na renda. Suponhamos, também, que possamos somar as utilidades totais de diferentes indivíduos para obter uma utilidade total social para a sociedade toda.

Baseando-nos nos dizeres acima, a utilidade social chegaria a um máximo quando a utilidade marginal da renda de todos os indivíduos fosse igual. Igualdade de renda, contudo não implica igualdade da utilidade marginal da renda. Por quê? Porque cada um de nós faz um juízo de valor diferente para cada unidade de sua renda. É por isso que as rendas seriam iguais somente para pessoas semelhantes.

O argumento mais convincente a favor da desigualdade da renda é o de que não é o nível médio de realização que mede o valor de uma cultura, mas os níveis máximos que ela atinge. Dentro desse contexto, seria preferível uma sociedade que tivesse cabanas de pau-a-pique e catedral a uma outra que só tivesse cabanas de pedra. O problema das políticas econômicas é encontrar o grau ótimo de desigualdade. Parece-nos que a média justa, apregoada por Aristóteles, é a mais aconselhável.

Dando prosseguimento a este raciocínio, somente as sociedades ricas podem se dar ao luxo da igualdade. As sociedades em desenvolvimento precisam de um alto grau de desigualdade, em que os recursos possam ser aglomerados em mãos de poucos, para propiciar o desenvolvimento de longo prazo.

Fonte de Consulta

BOULDING, K. E. Princípios de Política Econômica. São Paulo: Meste Jou, 1967, p.107 a 111.

 

01 julho 2008

A Troca

O instinto de sociedade leva o indivíduo a participar de uma polis. O contato com outras pessoas caracteriza o processo de troca. Adam Smith, o pai da economia, desenvolve algumas ideias acerca desse assunto, quando trata da divisão do trabalho. Para ele a divisão do trabalho propiciaria a especialização do indivíduo, diminuiria o tempo de produção de um bem e aumentaria a produtividade da mão de obra. A consequência é um maior poder de troca dentro da sociedade.

O estudo da troca representa noventa por cento do campo de atuação do economista. Mas o que é que os indivíduos trocam? Trocam suas especializações. Quando um alfaiate vai ao mercado comprar manteiga, ele leva o dinheiro ganho no terno confeccionado. O ato de compra é a transferência do trabalho do vendedor, do transportador e do produtor para atender às suas necessidades. Assim sendo, a troca sem especialização é impossível; a especialização sem troca carece de fundamento.

Um dos grandes problemas da troca é a ilusão monetária causada pela desvalorização do dinheiro. O dinheiro é apenas o meio de troca. Ele representa o grau de especialização de seu possuidor. Numa economia inflacionária como a brasileira, o dinheiro despendido num determinado bem nem sempre revela uma troca real, pois os aumentos de preço desequilibram o mecanismo dos preços relativos, fazendo com que percamos a noção de valor dos bens. Além disso, temos de pagar os custos da remarcação dos preços, feitos a cada quinze dias.

Este assunto dá-nos o ensejo de fazer uma reflexão sobre o nosso procedimento cotidiano. De que maneira estamos trocando as nossas horas? Estamos produzindo algo de útil ou tentando enriquecer às custas do trabalho alheio? Talvez não percebamos de pronto, porém cada um de nós se dá por aquilo que se troca. Observe a escolha de uma leitura. É a troca da hora pela obtenção de conhecimento. Será que todo o conhecimento adquirido é útil à nossa necessidade interior? Um exemplo: repassemos os nossos olhos sobre as notícias de um jornal publicado há trinta dias. A maioria das informações ali veiculadas tem pouco valor para o dia de hoje.

Trocar hora é trocar tempo. Tempo é vida. Tenhamos cuidado na troca de nossas horas, pois é possível que estejamos perdendo muito tempo em coisas insignificantes, as quais tem pouco valor ou nenhum valor para a nossa evolução espiritual.

Invistamos, pois, o nosso tempo na obtenção dos conhecimentos superiores, se realmente quisermos acumular sabedoria e virtude.

Fonte de Consulta

BOULDING, K. E. Economic Analysis. USA, Harper & Brothers, 1941. 


11 outubro 2005

Pechincha e Barganha

mercado é um lugar onde as pessoas compram e vendem bens e serviços na expectativa de obter uma vantagem. Que tipo de conflito estaria em evidência nesta relação? As pessoas, diferentes umas das outras, nem sempre são conhecedoras de toda a gama de bens, de modo que elas podem estar em conflito se compram ou não um determinado produto. Porém, não é esse o conflito que existe entre comprador e vendedor.

O conflito entre comprador e vendedor é caracterizado pela razão de troca, ou seja, pelo estabelecimento do preço de um bem. Quer dizer, enquanto o vendedor quer oferecer o produto pelo maior preço, o consumidor quer adquiri-lo pelo menor. É no intervalo entre o maior preço ofertado e o menor preço procurado, que o conflito terá sua solução. À disputa entre o maior e o menor preço, denominamos de pechincha. Pechinchar é, pois, diminuir ao máximo o preço oferecido pelo vendedor.

Numa relação de troca, o consumidor irá pechinchar até encontrar o preço de equilíbrio para o bem em questão. No Oriente esta prática é comum. Por outro lado, os Quakers, no século XVII, fixavam os preços para as suas mercadorias e recusavam qualquer tipo de pechincha, alegando que se alguém pechinchava é porque havia uma expectativa de que o que eles recebiam não era verdadeiro. Este fato deu origem ao que conhecemos hoje como preço fixo.

Gradualmente, entretanto, o costume tornou-se quase universal e raramente discutimos os preços, principalmente quando vamos ao supermercado ou grandes magazines. Observe a compra num supermercado tradicional: pegamos um carrinho, enchemo-lo de mercadorias, passamos pelo caixa, pagamos e vamos para os nossos lares. Não vem à nossa mente discutir o preço com o dono do supermercado. Podemos deixar de comprar, caso achemos que o preço do produto é mais convidativo em outro lugar, mas não regateamos com o dono do supermercado para levá-lo por um preço menor.

preço fixo tornou uma constante, mas isso não que dizer que podemos estabelecer qualquer preço arbitrariamente. Basta, por exemplo, observar a postura de um atravessador: a maioria de nós imagina que ele ganha tanto quanto quer, ou fixa o lucro que quer. Isso não é uma verdade, porque se ele contrariar a lei de oferta e demanda, poderá perder a sua posição no mercado, visto os produtores e consumidores organizarem as suas trocas de outra forma.

Saibamos pechinchar, mas não nos tornemos egoístas, a ponto de querer amealhar todo o lucro da troca somente para nós.

Fonte de Consulta

BOULDING, K. E., Economic Analysis. USA, Harper & Brothers, 1941.


02 outubro 2005

Fatos e Teorias

Deem-me "fatos" e não "teorias" é a queixa que mais frequentemente se ouve. A queixa pode ser justificada em protesto contra as teorias que não têm base nos fatos, mas usualmente cresce em função da incompreensão do relacionamento entre os fatos e as teorias. Contudo, para se chegar a um conhecimento profundo de um objeto, deve-se empreender maciços estudos teóricos.

Suponhamos, por exemplo, a compra de manteiga feita pela Senhora X. Para o economista, o fato relevante é a quantidade de manteiga recebida e o dinheiro gasto pela Senhora X, ou seja, taxa de troca estabelecida. O sorriso e a amabilidade do vendedor somente serão importantes se tiverem alguma influência na diminuição do preço da manteiga, quando comparado com outros estabelecimentos de venda do referido produto.

Suponhamos, também, que Oliver Cromwell tem uma verruga na ponta do seu nariz. Mas o que constitui este suposto "fato"? Para o químico é uma certa aglomeração de átomos e moléculas. Para o biólogo é uma certa impropriedade no comportamento das células. Para o psicólogo pode ser a chave para o conhecimento do caráter comportamental de Cromwell. Para o economista, o fato não tem significação nenhuma, a não ser quando ele tenciona despender alguns dólares na sua remoção. Qual é o fato sobre a verruga? Pode ser qualquer um dos acima citados, dependendo do esquema de interpretação adotado.

Tomemos, ainda, o exemplo da Senhora X que foi à mercearia comprar manteiga. Para o economista, como dissemos, o que vale é o preço e a quantidade de manteiga comprada. Para o oficial da saúde pública, o que interessa é verificar a composição química e bacteriológica da manteiga. Para o numismático, o que vale é observar as inscrições das moedas transacionadas. Como aqueles que dizem quero "fatos" e não "teorias", arrumar-se-iam para explicar os diferentes ponto de vista sobre o mesmo fato?

Na realidade, para observar com êxito, precisamos dos fatos que se escondem atrás dos objetos. Isso faz-nos selecionar. A nossa escolha é importante, porque ela mostra a estrutura mental que está atrás do conteúdo do fato observado. Dessa forma, o verdadeiro conceito de relevância implica a existência de uma teoria, porque os fatos serão relevantes somente em relação a algum corpo de princípios. Sem isso, caímos na verbosidade das palavras vazias.

Observemos fielmente os objetos. Não esperemos que os outros tenham a mesma visão que a nossa. O importante é dar a nossa contribuição ao fato. Somente assim construiremos um sólido edifício dos conhecimentos verdadeiros.

Fonte de Consulta

BOULDING, K. E., Economic Analysis. USA, Harper & Brothers, 1941.