04 outubro 2005

Cidade de Deus, A

A Cidade de Deus, de Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, exerceu sobre a história das doutrinas uma das mais diversas e duráveis influências. Ela fascinou a Idade Média. Ela inspirou Bossuet em seu Discours sur l’histoire universelle. Foi conservada por Augusto Comte no catálogo de sua Bibliothèque positive. Suscitou até o século XX o interesse vivo dos historiadores filósofos e teólogos.

O pensamento político contido na Cidade de Deus forja-se no encontro de duas tradições: a da cultura greco-romana e a das Escrituras judaico-cristãs. Da Antiguidade grega Agostinho retém as ideias de Platão (República e Leis). Traça, assim, os planos de uma cidade ideal, a Cidade de Deus, em contrapartida com a da cidade terrestre, em que predominam a guerra, a injustiça, o egoísmo etc. Para ele, a verdadeira administração de uma cidade deve estar baseada na justiça, e esta por sua vez na caridade, ensinada por Cristo.

Para Agostinho, os indivíduos pertencem sempre a um grupo-família, cidade, reino ou império. Isso é um fato essencial: a relação de cada homem com a sociedade é tão estreita quanto a de uma letra com a frase. Mas a palavra civitas não significa apenas "cidade": significa também o Estado Imperial. Logo, a existência de um grupo supõe, para Agostinho, um acordo de base — qualquer que seja o objeto — e revela, por isso mesmo, uma disposição fundamental do ser humano.

Sua teologia da história política é dada pela sucessão de seis épocas: de Adão ao Dilúvio; do Dilúvio a Abraão; de Abraão a Davi; de Davi à deportação para a Babilônia; dessa deportação ao nascimento de Cristo; e, por fim, desse acontecimento ao fim dos tempos, que será ele próprio o advento de um "sétimo dia". Para Agostinho, Cristo inaugurou uma nova época: com sua morte redentora na cruz, ofereceu às cidades terrestres a oportunidade de se converterem à Cidade de Deus.

Há muitas interpretações da Cidade de Deus. Alguns falam em terceira cidade, outros comparam a Cidade de Deus à Cidade do diabo. Outros ainda transcendem-na ao estado de uma Cidade celeste, ou seja, nesta cidade os indivíduos buscam a perfeita harmonia com as leis de Deus. Por isso, o indivíduo quando colocado num cargo público deveria sacrificar os seus interesses pessoais em prol do bem público, o verdadeiro bem celestial.

O pano de fundo de sua obra é o da eterna luta entre o bem e o mal. Ceder aos apetites da cidade terrestre é um mal; agir de acordo com os preceitos da Cidade de Deus, um bem que deve ser procurado a qualquer custo.

Fonte de Consulta

CHÂTELET, F., DUHAMEL, O. e PISIER, E. Doutrina de Obras Políticas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1993.

 

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