28 outubro 2005

O Papel Político de Jan Hus

João Hus (por volta de 1370-1415) apresenta-se, tanto no campo da religião quanto na vida política, marcado por pensamentos confusos. Ele não foi um pensador político, não foi também um grande teólogo. Também não foi original. O essencial de sua teologia vem de Wycliff. Encontrando-se em contato direto com o nascimento do sentimento nacional na Boêmia, em oposição à dominação alemã, conseguiu reunir em torno de si burgueses, intelectuais, camponeses e uma parte da nobreza. Tudo isso em virtude da divulgação da teologia da Wycliff, a qual contrariava o poderio da Igreja. O seu pensamento político pode ser reproduzido em quatro pontos.

O primeiro é concernente à Igreja, cuja reforma basear-se-ia no devotio moderna, ou seja, os cristãos devem seguir o exemplo de Cristo em uma relação direta, pessoal, com Deus, passando a organização Igreja para um segundo plano. Apregoava que a Igreja não tinha autoridade divina e, portanto, dever-se-ia lutar contra a imoralidade e a ignorância do clero e recolocar a massa dos fiéis em contato direto com o poder. Queria acabar com os privilégios sacerdotais, inclusive, eliminando o latim, a fim de que todos pudessem entender o verbo divino.

Um segundo grande ponto do pensamento político de Hus é a importância que ele dá à Universidade. Ele estima que se a Universidade for bem estruturada, os alunos receberão orientação adequada e poderão ser os futuros reformadores do quadro político e social de sua nação. Daí sua luta para mudar a direção da Universidade, no sentido de oferecer um maior número de vozes à nação Boêmia e ao partido reformador.

O terceiro e mais significativo aspecto de seu pensamento político é a sua tendência constante a relacionar tudo com o povo. Quando chegava uma mensagem do Concílio, Hus a lia em assembleia popular. A sua pregação sobre a liberdade era contínua. Orientava, assim, o povo para os riscos de se resistir às autoridades injustas. Para ele o que compõe a Igreja justa são os pobres e a multidão dos crentes que são a autoridade última. O afã de tudo tornar público, fê-lo responder à excomunhão maior da Cúria, com o "apelo último": o único juiz legítimo é Jesus Cristo e não o papa ou Concílio.

O quarto ponto refere-se ao duplo movimento de ruptura e de continuidade entre o cristianismo e o poder. Ruptura, no sentido de não deixar a religião justificar nem tampouco legitimar nenhum poder, nenhuma dominação, nenhuma desigualdade. É a partir da revelação que o homem deve julgar as autoridades. Mas a principal relação é que, para Hus, a liberdade cristã deve produzir a liberdade política, e esta no que concerne ao povo checo, se deve inscrever dentro da liberdade nacional.

João Hus, grande propagador da liberdade religiosa e política, sempre dizia que a liberdade tem poucas chances de sucesso. Eis que, vê consumado em si mesmo o que mais temia: morreu queimado no dia 06/07/1415, por ordem do clero.

Fonte de Consulta

CHÂTELET, F., DUHAMEL, O. e PISIER, E. Doutrina de Obras Políticas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1993.

 

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