29 dezembro 2014

Ganha-Ganha e Soma-Zero

Gideon Rachman, editor-chefe de assuntos internacionais do Financial Times, em "O Mundo Soma-Zero", faz um estudo da economia desde 1978, analisando-a em três períodos: a Era da Transformação (1978-1991); a Era do Otimismo (1991-2008); a Era da Ansiedade (2008 em diante).

Ao longo dos 30 anos (1978 a 2008), as maiores potências do mundo adotaram a globalização, porque pensavam que esse sistema econômico era o mais adequado para atender aos interesses comuns. A crise de 2008 alterou a lógica das relações internacionais do ganha-ganha e passou para soma-zero.

A lógica da soma-zero é quando o ganho de um país coincide com a perda em outro país. Para o autor, a lógica da soma-zero está ameaçando o futuro da União Europeia, à medida que os países discordam em relação aos custos de se administrar a moeda única. Acha também que a lógica da soma-zero tem impedido o mundo de se chegar a um acordo em relação ao aquecimento global. Os Estados Unidos, a China e a União Europeia e as principais economias em desenvolvimento hesitam em dar o primeiro passo, com medo de perder competitividade com o seu vizinho.

A Era da Transformação teve início em dezembro de 1978 em Pequim, na Terceira Plenária do encontro do Décimo Primeiro Comitê Central do Partido Comunista da China. Ela terminou na noite de Natal de 1991, quando a bandeira da União Soviética foi arriada pela última vez no Kremlin. No fim de 1978, Deng Xiaoping estabeleceu as bases da abertura chinesa e, concordando com os Estados Unidos, dizia: "É glorioso enriquecer".

A Era do Otimismo foi um período em que o poder econômico americano estava colocado no centro das atividades econômicas mundiais. Wall Street direcionava o fluxo de dinheiro; Estados Unidos gastava mais do que todos os outros países; os Estados Unidos eram o centro das revoluções da informática e da internet. Tudo isso dava força à globalização, à democracia e ao livre-comércio.

Durante a Era do Otimismo, a globalização e o poder americano serviram de base para o sistema internacional. Os internacionalistas liberais estavam confiantes de que o mercado da prosperidade, liberdade e estabilidade estava em expansão, enquanto pobreza, ditadura e a anarquia estavam sendo repelidos aos poucos.

O crash econômico de 2008 deu início à Era da Ansiedade. A crença no progresso da democracia fora abalada pelas dificuldades de implantar a democracia no Iraque e no Afeganistão e pela crescente confiança da China autoritária. Além disso, houve muita desconfiança quanto ao progresso tecnológico. A própria Rússia se envolvia em força militar, quase destronando a Geórgia democrática, em agosto de 2008. 

Fonte de Consulta

RACHMAN, Gideon. O Mundo Soma-Zero: Política, Poder e Prosperidade no Atual Cenário Global. Tradução de Cristina Yamagami. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

 

02 dezembro 2014

Inovação - Aprendendo com o Fracasso

"A inovação eficaz é a novidade que baixa o custo e o preço de um bem e de um serviço, e, deste modo, aumenta o produto global de que uma economia dispõe, calculado em preço corrente." (F. Perroux)

Inovação. Em sentido amplo, engloba uma gama enorme de considerações desde a psicologia até as ideologias de governo. Em sentido técnico, inovação tecnológica é um processo que abrange a concepção, definição, produção, utilização e difusão de um novo produto, processo produtivo ou sistema de produção. Em economia, inovação é o estabelecimento de uma nova função de produção com mais produtividade.

No estudo da inovação, devemos fazer uma distinção entre a invenção, a descoberta e a inovação propriamente dita. A invenção consiste em criar algo que ainda não existe. A descoberta consiste em encontrar algo que já existia, mas ainda não conhecido. A inovação foi estudada no âmbito de rendibilidade por economistas e sociólogos. O seu intuito é modificar para melhor o sistema de produção, tornando-o mais eficiente, mais produtivo.

Joseph Schumpeter é considerado um dos grandes teóricos da inovação, principalmente em função de sua tese da "destruição criadora". Como entendê-la? Uma vez assimilada uma dada inovação, há um "enxame" de novos inovadores oferecendo processos de produção mais eficientes. Isso acarreta um excesso de oferta de inovação no processo produtivo geral. A consequência é uma inflexão das curvas de demanda e uma paralisação do ciclo produtivo. Com isso, há uma destruição dessas inovações para darem lugar a inovações mais produtivas e eficientes.

Schumpeter distingue cinco tipos de inovação: 1) o fabrico de um novo bem; 2) a introdução de um novo método de produção; 3) a abertura de um novo mercado, quer dizer, o fato de um indústria conquistar um mercado em que anteriormente não vendia; 4) a conquista de uma nova fonte de abastecimento em matérias-primas; 5) a realização de uma nova forma de organização da produção.

A inovação está mais para o fracasso do que para o êxito. Há o risco de demanda, o risco comercial, o risco tecnológico, o risco organizacional. Nesse sentido, o químico Humphry Davy disse: "As minhas descobertas mais importantes me foram sugeridas por meus próprios fracassos". Ford, por seu turno, argumentou: "O fracasso é a única oportunidade de começar de novo de uma maneira mais inteligente". A incerteza é o elemento propulsor da inovação. Em muitas ocasiões, entra em ação a inspiração e a intuição do inovador, como uma espécie de percepção extra-sensorial.  

Um exemplo prático: a desafiadora busca por inovação pela IBM em toda a sua história. Ela auxiliou na descoberta e no desenvolvimento de supercomputadores, semicondutores e supercondutividade. Gasta bilhões de dólares em inovação: registra mais patentes do que qualquer outra empresa e seus funcionários já ganharam cinco prêmios Nobel. Os programas de recompensas e reconhecimento são essenciais para promover a inovação. A IBM possibilita que seus funcionários, familiares e outros participem das sugestões que são pedidas online.

Muitas inovações não são aceitas por causa da rede mundial de comércio. Observe a invenção do carro elétrico. O sistema mundial ligado ao petróleo acabou impedindo de ele prosperar.  

Fonte de Consulta

DODGSON, Mark e GANN, David. Inovação. Tradução de Iuri Abreu. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. (Coleção L&PM POCKET, v. 1164)

POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.

THINES, G., LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70, 1984.

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O excesso de energia liberada em uma reação exagerada às contrariedades é o que promove a inovação! Não o planejamento.

No entanto, apesar da visibilidade das contraprovas, e da sabedoria que você pode adquirir gratuitamente com os antigos (ou das avós), os modernos tentam, hoje, criar invenções a partir de situações de conforto, de segurança e de previsibilidade, em vez de aceitar a noção de que a “necessidade é realmente a mãe da invenção”. (Taleb, Nassim Nicholas. Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos. [Capítulo 2, Livro I]).