Para E. J. Hobsbawm, "Gramsci foi um filósofo
extraordinário, talvez um gênio, provavelmente o mais original pensador
comunista do século XX na Europa Ocidental". Segundo Norberto Bobbio,
"se excetuarmos os grandes protagonistas da revolução soviética, não há personagem
na história do movimento operário cuja personalidade e obra tenham despertado
maior interesse que Gramsci". L. Althusser, por sua vez, diz: "quem realmente tentou investigar as
elaborações de Marx e Engels? Só consigo pensar em Gramsci".
O uso moderno do
termo "esquerda " deriva da Assembleia dos Estados Gerais
de 1789, quando, na França, a nobreza sentou-se à direita do rei, e o
Terceiro Estado, à sua esquerda. Hoje, esses termos são aplicados a
facções e opiniões em toda ordem política.
Antonio Gramsci (1891-1937) foi um
ativista político, jornalista e intelectual italiano, um dos fundadores do
Partido Comunista da Itália. Formulou o conceito de hegemonia cultural para
descrever o tipo de dominação ideológica de uma classe social
sobre outra, particularmente da burguesia sobre o proletariado.
Desde
cedo participou da ala esquerda do Partido Socialista. Em 1915, abandonou os
estudos de Letras na Universidade de Turin para se dedicar plenamente à
política e ao jornalismo. Na elaboração do programa dos conselhos de fábrica, a
sua maior realização foi a greve geral de 1920. Preso em 1926, e condenado a 20
anos de prisão, começa, em 1929, a redação dos Quaderni (Cadernos
de Cárcere). Cumpriu 12 anos da pena, mas tão logo foi solto, morreu quatro
dias depois, devido aos maus tratos na prisão.
Gramsci
entendia o marxismo como uma filosofia da praxis. O seu objeto é a
historicidade radical das coisas e eventos. O histórico, para Gramsci, está
centrado no projeto político, e a historicidade tem relação com a prática
política: a revolução. "A filosofia da praxis pretende
ser um saber rigoroso de ordem historiográfico-hermenêutico sobre o passado e o
presente da sociedade burguesa, ao mesmo tempo que um projeto militante de
auto-realização, existindo na forma da luta política" (1).
A valoração atual
de Gramsci como pensador de esquerda, e a inclusão de suas obras em milhares
de cursos universitários, como teórico político, revolucionário, crítico
cultural e filósofo – "não é o resultado de uns poucos artigos acadêmicos,
mas de um amplo movimento de aprovação, uma espécie de ânsia por orientação
moral e intelectual, que destacou Gramsci como seu objeto, e que aderiu a ele
desde então. Gramsci é a criação dos anos 1960, o símbolo de uma geração ávida
por liderança, mas confiante somente naqueles que estavam seguramente mortos —
preferivelmente mortos, como Gramsci, na interminável luta contra o inimigo
"fascista"" (2).
Fonte de Consulta
(1) Enciclopédia Luso-Brasileira de
Filosofia.
(2) SCRUTON, Roger. Tolos, Fraudes e Militantes:
Pensadores da Nova Esquerda. Tradução de Alessandra Bonrruquer. 3. ed., Rio de
Janeiro: Record, 2018, capítulo 7.
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