Há duas antigas noções de justiça: 1ª) dar a cada um o que ele
"merece" e; 2ª) dar a cada um o que ele "necessita". Como
avaliar, com certeza, o "merecimento" ou a "necessidade"?
Não é tarefa fácil. Geralmente, utilizamo-nos do descontentamento, que é a
distância entre aquilo que julgamos ideal e aquilo que está realmente
ocorrendo.
Os propagadores do comunismo pregam a igualdade de renda. Esquecem-se de
que os indivíduos são desiguais e, portanto, requerem níveis diferenciados de
riqueza. A renda poderia ser igual se todos fossem semelhantes.
Como isso não é possível, temos de conviver com as mansões dos ricos e os
barracos dos pobres.
Este argumento é reforçado pelo estudo da utilidade marginal da renda.
Aqueles que dão pouco valor às riquezas, têm uma utilidade marginal da renda
baixa; aqueles que dão grande valor, alta. Supondo-se que o equilíbrio da
sociedade esteja na igualdade da utilidade marginal da renda, um aumento do
nível total da renda, deverá ser distribuído de forma desigual: os que mais
desfrutam da renda, deveriam receber mais do que aqueles que menos desfrutam.
As sociedades ricas podem dar-se ao luxo de serem igualitárias. É que
venceram os níveis mais baixos de renda, em que se necessita de grandes
investimentos para promover o desenvolvimento econômico. A manutenção do
"status quo", nestas sociedades, é feita com baixos dispêndios, uma
vez que a produção em massa para o consumo de massa, diminuiu substancialmente
os custos de fabricação.
A justa distribuição de renda é, ainda, de difícil solução.
Independentemente dos fatores macroeconômicos apontados, há aqueles que dizem
respeito ao fórum íntimo de cada pessoa, na avaliação do "mérito" ou
"demérito". Damos mais valor aos nossos "méritos" do que
aos dos outros. Com isso, cometemos uma "injustiça". E, se cada um
comete "injustiça", a sociedade será "injusta".
O ideal democrático deveria ser calcado num grau ótimo de desigualdade
de renda. Nesse sentido, a vitória sobre o egoísmo e os interesses pessoais
muito contribuiria para o "justo" relacionamento na sociedade em que
vivemos.
Fonte de Consulta
BOULDING, K. E. Princípios de Política
Econômica. São Paulo, Mestre Jou, 1967.São
Paulo, 20/09/1995
Nenhum comentário:
Postar um comentário