A área dos aspectos sagrados da vida, caracterizado
por fortes sentimentos emotivos e grande confiança na autoridade, está ainda
centrada nos conhecimentos folk e literário. Não existe um
estudo científico a seu respeito. Assim, o impacto que as ciências sociais pode
ter sobre esta área é muito ambíguo. Situamos, a seguir, o Direito, a religião,
a ética, a educação e a política, dando-lhes rápidas pinceladas.
Colocar o Direito no ramo do
sagrado, parece fora de propósito. Mas se bem examinarmos, verificaremos que há
muitos pontos em comum com a Igreja. A toga do juiz, a arquitetura dos
tribunais, os rituais das sessões e o uso de símbolos sagrados para o juramento
concorrem, pelo menos, para dar ao Direito um certo sabor de sagrado. A atuação
de um juiz difere da de um cientista. O juiz não sabe, e procura quem sabe, sob
pena de perjúrio; o cientista não sabe, e procura saber através da previsão
controlada por testes estatísticos. A toga do juiz dá-lhe autoridade, a bata do
cientista é simplesmente para não sujar as suas roupas. Além do mais, o status de
um juiz é, aos olhos da pessoa comum, superior a qualquer outra.
A religião é um dos aspectos da
vida que pode ser entendido como especializado no sagrado. As religiões, de um
modo geral, estão impregnadas de dogmas, rituais e analectos. Caracterizam-se
pela emotividade, afetividade e confiança exacerbada na autoridade, de modo que
a penetração das ciências sociais torna-se bastante difícil. A comparação com
as ciências sociais torna-se ambígua e imprecisa. Observe, por exemplo, o dogma
da Santíssima Trindade. Como provar cientificamente que há três pessoas em uma
só? De qualquer forma, as Igrejas desempenham um papel ético bastante
importante, pois comunicam diversos valores morais aos seus adeptos, incluindo
a educação dos filhos, a preparação para o casamento, as regras para a prática
da caridade etc.
A ética, por sua vez, tem-se
estruturado ao redor de um sistema folk e quando muito ao lado
de um sistema literário, como é o caso dos Dez Mandamentos ou o Sermão da
Montanha. Até agora as ciências sociais tiveram um impacto muito pequeno sobre
o sistema ético, pois enquanto a ciência pede uma atitude racional do
comportamento humano, uma atitude crítica, uma atitude de dúvida como o fez
Descartes em seu Discurso do Método, a religião continua presa à
tradição, ao comodismo e muito raramente quer mudar a ortodoxia de sua
dogmática.
Na educação e na política,
áreas também adstritas aos aspectos sagrados da vida, as ciências sociais têm
tido algum sucesso. No campo da educação, os psicólogos têm
substituído o princípio folk "do que quem ama bem
castiga", que levou muitos jovens à delinquência, por princípios
literários, com ênfase à liberdade de aprender. No campo da política,
o êxito refere-se ao questionamento da legitimidade da autoridade. Hoje,
estamos mais conscientes dos deveres e obrigações daqueles que foram colocados
como representantes do povo.
Ciência social e sagrado fazem parte de uma ambiguidade,
cujo efeito final é ainda difícil de ser medido, pois as ciências são tanto
sucedâneos quanto complementos dos aspectos sagrados da vida.
Fonte de Consulta
BOULDING, K. E. O Impacto das Ciências
Sociais. Rio de Janeiro, Zahar, 1974.
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