02 julho 2008

O Sagrado ante as Ciências Sociais

A área dos aspectos sagrados da vida, caracterizado por fortes sentimentos emotivos e grande confiança na autoridade, está ainda centrada nos conhecimentos folk e literário. Não existe um estudo científico a seu respeito. Assim, o impacto que as ciências sociais pode ter sobre esta área é muito ambíguo. Situamos, a seguir, o Direito, a religião, a ética, a educação e a política, dando-lhes rápidas pinceladas.

Colocar o Direito no ramo do sagrado, parece fora de propósito. Mas se bem examinarmos, verificaremos que há muitos pontos em comum com a Igreja. A toga do juiz, a arquitetura dos tribunais, os rituais das sessões e o uso de símbolos sagrados para o juramento concorrem, pelo menos, para dar ao Direito um certo sabor de sagrado. A atuação de um juiz difere da de um cientista. O juiz não sabe, e procura quem sabe, sob pena de perjúrio; o cientista não sabe, e procura saber através da previsão controlada por testes estatísticos. A toga do juiz dá-lhe autoridade, a bata do cientista é simplesmente para não sujar as suas roupas. Além do mais, o status de um juiz é, aos olhos da pessoa comum, superior a qualquer outra.

religião é um dos aspectos da vida que pode ser entendido como especializado no sagrado. As religiões, de um modo geral, estão impregnadas de dogmas, rituais e analectos. Caracterizam-se pela emotividade, afetividade e confiança exacerbada na autoridade, de modo que a penetração das ciências sociais torna-se bastante difícil. A comparação com as ciências sociais torna-se ambígua e imprecisa. Observe, por exemplo, o dogma da Santíssima Trindade. Como provar cientificamente que há três pessoas em uma só? De qualquer forma, as Igrejas desempenham um papel ético bastante importante, pois comunicam diversos valores morais aos seus adeptos, incluindo a educação dos filhos, a preparação para o casamento, as regras para a prática da caridade etc.

ética, por sua vez, tem-se estruturado ao redor de um sistema folk e quando muito ao lado de um sistema literário, como é o caso dos Dez Mandamentos ou o Sermão da Montanha. Até agora as ciências sociais tiveram um impacto muito pequeno sobre o sistema ético, pois enquanto a ciência pede uma atitude racional do comportamento humano, uma atitude crítica, uma atitude de dúvida como o fez Descartes em seu Discurso do Método, a religião continua presa à tradição, ao comodismo e muito raramente quer mudar a ortodoxia de sua dogmática.

Na educação e na política, áreas também adstritas aos aspectos sagrados da vida, as ciências sociais têm tido algum sucesso. No campo da educação, os psicólogos têm substituído o princípio folk "do que quem ama bem castiga", que levou muitos jovens à delinquência, por princípios literários, com ênfase à liberdade de aprender. No campo da política, o êxito refere-se ao questionamento da legitimidade da autoridade. Hoje, estamos mais conscientes dos deveres e obrigações daqueles que foram colocados como representantes do povo.

Ciência social e sagrado fazem parte de uma ambiguidade, cujo efeito final é ainda difícil de ser medido, pois as ciências são tanto sucedâneos quanto complementos dos aspectos sagrados da vida.

Fonte de Consulta

BOULDING, K. E. O Impacto das Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Zahar, 1974.

 

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