Ibn Khaldun (1332-1406) é pouco ventilado no campo
da Filosofia. Está inserido mais entre os historiadores e os precursores da
Sociologia do que entre os filósofos. Os compêndios de História da Filosofia
referem-se quase sempre à filosofia árabe medieval, estudando os pensadores que
vão do século IX ao XII, e que exerceram influência direta no meio europeu.
Como Khaldun pertence ao século XIV, acabou sendo esquecido. Contudo, mais
recentemente é descoberto pelos ocidentais.
O casal Khouri, que traduziu Os
Prolegômenos de Khaldun, relaciona, em sua tradução, as diversas obras
deste escritor árabe. Entre elas citamos: Comentário de Burda, de
Al-Bosire, poema célebre em louvor de Maomé; Talkhis, ou Epítome
dos Tratados de Averróis; Lógica, tratado; Talkhis, ou Epítome
da Muhassal, suma teológica do ímame Fakhr Ud-Din Al-Razi; Matemática,
tratado; e, por fim, um Comentário do poema do vizir Ibn
Al-Khatib, em verso técnico (rajaz), contendo uma exposição dos princípios
fundamentais da Jurisprudência.
O teor do pensamento árabe da Idade Média
assemelhava-se ao teor do pensamento ocidental, ou seja, na junção da filosofia
grega e da religião. A Patrística tentava unir Platonismo e Cristianismo; os
árabes, especulavam sobre o Alcorão, utilizando a lógica. Nessa tentativa de
comparação, os árabes levam vantagem, porque, apesar de manter alguns dogmas
islâmicos, a sua comunicação com várias culturas europeias, deixam-nos de mente
mais aberta, encaminhando-os mais facilmente para a liberdade filosófica.
Abn Khaldun foi um estudioso da sociedade. No seu
livro Prolegômenos, Filosofia Social, composto de três grandes
volumes, trata de quase todos os problemas da vida em sociedade. Seu vigor de
pensamento é tamanho, que consegue substituir a frase lapidar de Aristóteles
"O homem é um animal social" por "O homem, por sua natureza, é
citadino". Sua meta foi sempre o livre pensar do homem, no sentido de que
ele possa alcançar horizontes cada vez mais vastos.
Em suas observações sobre a sociedade, elabora-nos
sobre a teoria da mentira. Primeiro, Khaldun aponta "o apego dos homens a
certas opiniões e a certas doutrinas", apego que não permite a serenidade
de espírito, e portanto a imparcialidade e a objetividade. A seguir, adverte
contra a confiança ingênua nos relatos dos informantes. Depois, a falta de
conhecimentos dos objetivos dos "atores dos grandes acontecimentos".
Acrescenta, ainda, a facilidade com que o Homem se considera na posse da
verdade e a ignorância das relações existentes entre os acontecimentos e as
circunstâncias.
A verdade não é monopólio de ninguém. Quer
estejamos nos Estados Unidos, na França, no Japão, na Arábia etc., podemos
captar as luzes desses conhecimentos superiores.
Fonte de Consulta
PIRES, J. H. Os Filósofos. São Paulo,
Cultrix, 1960. (Coleção Vidas Ilustres, IV).
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