02 julho 2008

Ibn Khaldun

Ibn Khaldun (1332-1406) é pouco ventilado no campo da Filosofia. Está inserido mais entre os historiadores e os precursores da Sociologia do que entre os filósofos. Os compêndios de História da Filosofia referem-se quase sempre à filosofia árabe medieval, estudando os pensadores que vão do século IX ao XII, e que exerceram influência direta no meio europeu. Como Khaldun pertence ao século XIV, acabou sendo esquecido. Contudo, mais recentemente é descoberto pelos ocidentais.

O casal Khouri, que traduziu Os Prolegômenos de Khaldun, relaciona, em sua tradução, as diversas obras deste escritor árabe. Entre elas citamos: Comentário de Burda, de Al-Bosire, poema célebre em louvor de Maomé; Talkhis, ou Epítome dos Tratados de AverróisLógica, tratado; Talkhis, ou Epítome da Muhassal, suma teológica do ímame Fakhr Ud-Din Al-Razi; Matemática, tratado; e, por fim, um Comentário do poema do vizir Ibn Al-Khatib, em verso técnico (rajaz), contendo uma exposição dos princípios fundamentais da Jurisprudência.

O teor do pensamento árabe da Idade Média assemelhava-se ao teor do pensamento ocidental, ou seja, na junção da filosofia grega e da religião. A Patrística tentava unir Platonismo e Cristianismo; os árabes, especulavam sobre o Alcorão, utilizando a lógica. Nessa tentativa de comparação, os árabes levam vantagem, porque, apesar de manter alguns dogmas islâmicos, a sua comunicação com várias culturas europeias, deixam-nos de mente mais aberta, encaminhando-os mais facilmente para a liberdade filosófica.

Abn Khaldun foi um estudioso da sociedade. No seu livro Prolegômenos, Filosofia Social, composto de três grandes volumes, trata de quase todos os problemas da vida em sociedade. Seu vigor de pensamento é tamanho, que consegue substituir a frase lapidar de Aristóteles "O homem é um animal social" por "O homem, por sua natureza, é citadino". Sua meta foi sempre o livre pensar do homem, no sentido de que ele possa alcançar horizontes cada vez mais vastos.

Em suas observações sobre a sociedade, elabora-nos sobre a teoria da mentira. Primeiro, Khaldun aponta "o apego dos homens a certas opiniões e a certas doutrinas", apego que não permite a serenidade de espírito, e portanto a imparcialidade e a objetividade. A seguir, adverte contra a confiança ingênua nos relatos dos informantes. Depois, a falta de conhecimentos dos objetivos dos "atores dos grandes acontecimentos". Acrescenta, ainda, a facilidade com que o Homem se considera na posse da verdade e a ignorância das relações existentes entre os acontecimentos e as circunstâncias.

A verdade não é monopólio de ninguém. Quer estejamos nos Estados Unidos, na França, no Japão, na Arábia etc., podemos captar as luzes desses conhecimentos superiores.

Fonte de Consulta

PIRES, J. H. Os Filósofos. São Paulo, Cultrix, 1960. (Coleção Vidas Ilustres, IV).

 

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