"Para que o mal triunfe, basta
que os homens de bem se omitam." (Discurso inaugural na Universidade de
St. Andrews, 1867)
John Stuart Mill (1806-1873),
filho de James Mill, autor de Elementos
de Política Econômica e Historia da Índia, recebe de seu pai
severa educação. Aos 3 anos de idade seu próprio pai lhe ensinou matemática,
latim e grego; aos oito era familiar de Euclides, Heródoto e Platão no
original; aos doze era hábil no tratado de lógica aristotélica; e aos quinze
estudou Psicologia e Direito Romano.
Em 1822, Mill começou a trabalhar como escrivão de seu pai no
departamento de examinadores da Casa da Índia, e seis anos mais tarde foi
promovido ao posto de examinador assistente. Até 1856 ele foi encarregado das
relações da companhia com o estado principesco da Índia. Com o decorrer do
tempo, tornou-se chefe do departamento de examinadores, posição que manteve até
a dissolução da companhia em 1858. Mill viveu em Saint Véran, perto de Avignon
na France, até 1865, quando ele entrou no Parlamento como membro de
Westminster. Não conseguindo reeleger-se na eleição geral de 1868, ele retornou
a França, onde estudou e escreveu até sua morte, em Avignon, no dia 8 de maio
de 1873.
John Stuart Mill, o mais eminente do grupo de filósofos britânicos do
século XIX, propôs e desenvolveu a doutrina do utilitarismo. Ele foi um
reformador social, um defensor da liberdade tanto política quanto pessoal e um
filósofo e lógico de considerável importância. Seu trabalho On Liberty, publicado em 1859, discute os
sistemas legais e governamentais. Na introdução do seu ensaio dizia que a única
liberdade que merece o nome de liberdade é aquela em que cada um procurando o
seu próprio interesse não prejudica o próximo a conquistar o dele. Acha ele que
as pessoas devem ser livres, mas muitas vezes acontece que os governos são
constituídos de forma arbitrária. É a partir daí que discute todo o problema
envolvido entre a autoridade e a liberdade.
O ponto inicial da sua filosofia foi o trabalho de Jeremy Bentham, reformador
radical que primeiro disseminou a ideia "da maior felicidade
para o maior número", como um princípio moral. Isto ficou conhecido como o
princípio da utilidade. No Utilitarismo Mill desenvolve este princípio como uma
teoria moral que provê a direção de como viver virtuosamente. A doutrina da
utilidade, disse ele, "assegura que as ações são certas na proporção que
elas tendem a promover felicidade, erradas quando elas tendem a promover o
inverso da felicidade".
Sua primeira obra foi publicada em 1822 e, durante toda a vida, escreveu
sobre uma extensa gama de assuntos. System
of Logic apareceu em 1843 e, imediatamente, estabeleceu-lhe fama. Mill
alegava ser, em Economia, um puro ricardiano, mas, na sua principal obra, Principles of Political Economy (1848) (Princípios de Economia Política), o seu pensamento
se revelou extremamente original. Trata-se de uma revista compreensiva da
ciência econômica tal como se apresentava nos seus dias e logo se tornou obra
básica do gênero. Sua maior contribuição para a análise econômica, no entanto,
está contida nos Essays on Some Unsettled Questions in
Political Economy (Ensaios Sobre Algumas questões Não
Resolvidas de Economia Política), escrita em 1829, quando ele tinha
apenas 23 anos, e publicada em 1844.
Sua influência no mundo das idéias foi marcante. Observe que abordou
quase todos os assuntos de interesse social. Assim, ele teve um grande impacto
sobre o pensamento britânico do século XIX, não somente em filosofia e economia
mas também nas áreas de ciência política, lógica e ética.
Fonte de Consulta
COLLINSON, D. Fifty Major
Philosophers, a Reference Guide. London and New York, Routledge, 1995.
SELDON, A. e PENNANCE, F. G. Dicionário de Economia. 3. Ed.,
Rio de Janeiro, Edições Bloch, 1977.
COMMINS, S. e LINSCOTT, R. N. The
World’s Great Thinkers - Man and the State: the Political Philosophers. New York, EUA,
Random House, 1947.
...
John Stuart Mill foi uma criança prodígio: desde os 3 anos de idade já
estudava grego; o latim veio depois, quando completou 8 anos, seguido por
lógica e economia política no início da adolescência e mais adiante história,
direito e filosofia.
Foi educado para defender as ideias de Bentham. Porém, não foi uma linha
dura do utilitarismo.
Seu livro mais conhecido, A
liberdade (1859), discute a liberdade do indivíduo em relação à sociedade e ao
Estado, argumentando que "o único propósito para o qual o poder pode ser
legitimamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada,
contra a sua vontade, é o de prevenir o dano a terceiros. O seu próprio bem,
físico ou moral, não justificativa suficiente". A posição de Mill não se
baseava em ideias acerca de direitos, mas numa crença na utilidade: se cada um
fosse em busca da própria felicidade, todos juntos conseguiriam promover o bem
geral da sociedade. A maioria não deveria eliminar aqueles que discordassem
dela, e a liberdade de expressão deveria ser estimulada, porque o debate
genuíno permite que as pessoas examinem suas convicções. (LEVENE, Lesley. Filosofia para Ocupados: dos
Pré-Socráticos aos Tempos Modernos. Tradução de Débora Fleck. Rio de Janeiro:
LeYa, 2019.)
...
“Foi em 1819 que ele me conduziu
através de um curso completo de Economia Política. Seu íntimo e querido amigo
Ricardo havia, pouco antes, publicado o livro que marcou uma época tão
grandiosa da Economia Política — livro que nunca teria sido publicado ou
escrito, não fora a solicitação e o forte estímulo de meu pai. (...) Não
existia então nenhum tratado que incorporasse suas doutrinas de uma forma
adequada para alunos. Eis por que meu pai começou a instruir-me na ciência
através de uma espécie de preleções, que me ministrava em passeios ao ar livre.
Cada dia expunha-me uma parte do assunto, e no dia seguinte eu lhe apresentava
um relatório escrito sobre o exposto, relatório esse que meu pai me fazia
reescrever várias vezes, até ele tornar-se claro, preciso e satisfatoriamente
completo. Dessa maneira estudei a ciência em toda a sua extensão: e o sumário
escrito, resultante do meu compte-rendu
diário, serviu-lhe posteriormente como
notas a partir das quais escreveu seus Elements of Political Economy.
Depois disso, li Ricardo, apresentando diariamente um relatório sobre o que
havia lido, e discutindo (...) os pontos colaterais que se ofereciam à medida
que avançávamos.”
“Quanto ao dinheiro, sendo a parte
mais complexa do assunto, meu pai fez-me ler, da mesma forma, os admiráveis
opúsculos de Ricardo, escritos durante (...) a controvérsia metalista; depois
desses escritos veio Adam Smith; e (...) um dos objetivos primordiais de meu
pai era fazer-me aplicar à concepção mais superficial da Economia Política de
Smith as luzes superiores de Ricardo, e detectar o que era falacioso aos
argumentos de Smith ou errôneo em qualquer das conclusões dele. Tal método de
instrução foi excelentemente projetado para formar um pensador, mas tinha que
ser aplicado por um pensador tão preciso e vigoroso como seu pai. O caminho era
espinhoso mesmo para ele, e certamente para mim, a despeito do forte interesse
que eu devotava ao assunto. Muitas vezes ele agastava-se, muito além do
justificado pela razão, com minhas falhas em casos em que não se teria podido
esperar sucesso; no essencial, porém, seu método era correto, e alcançou êxito.
“Reuníamo-nos doze ou mais. O Sr.
Grote emprestava um quarto de sua casa na Threadneedle Street. (...)
Encontrávamo-nos duas manhãs por semana, das oito e meia até as dez, horário em
que a maioria de nós tinha que partir para suas ocupações diárias. O nosso
primeiro assunto foi a Economia Política. Escolhíamos como nosso manual algum
tratado sistemático; o primeiro que escolhemos foi o Elements de
meu pai. Um de nós lia um capítulo, ou então alguma parte menor do livro.
Abria-se então o debate, e quem quer que tivesse alguma objeção ou outra
observação a fazer, tomava a palavra. Nossa norma era discutir em profundidade
cada ponto levantado (...) até que todos os participantes estivessem
satisfeitos com a conclusão à qual haviam chegado individualmente; e aprofundar
cada item (...) que o capítulo ou a conversa sugerisse, não passando nunca para
outro antes de termos desatado todos os nós.” (MILL, John Stuart. Princípios
de Política Econômica. "Introdução" por W. J. Ashley Edgbaston, setembro de 1909)
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