Mohandas Karamchand Gandhi, místico e líder político da Índia, nasceu em
2 de outubro de 1869 e morreu assassinado em 1948. Referindo-se ao Gandhismo,
enfatizou não só o caráter aberto, experimental de suas ideias sociais, como
também a sua tomada de posição contra toda forma de sectarismo que se referisse
ao seu nome. Dizia: "Meu intento não é o de ser coerente com as minhas
afirmações precedentes ... mas sim, de ser coerente com a verdade como se
apresenta em um dado momento".
Reiteradas vezes afirmou que, durante uma única existência, seria
impossível escrever um tratado a respeito da concepção da não-violência, e, se
o escrevesse, seria incompleto. Além disso, cognominava-se "homem de
ação", deixando para os acadêmicos obra de tão grande envergadura. De
qualquer forma, os escritos que apareceram em Young India e Harijan (literalmente
, "o povo de Deus") evocam todo um conjunto de ideias filosóficas e
religiosas, de conceitos éticos-políticos, de proposições em relação ao sentido
da história e da vida humana, da educação, da vida associativa etc.
As interpretações acerca Gandhi são muitas e variadas: no extremo
negativo os que afirmam não ser original a sua doutrina, mas apenas um acervo
eclético de teses colhidas um pouco de todos os lugares; no extremo positivo,
os que veem no gandhismo a única doutrina verdadeiramente nova no nosso século
(leninismo e maoísmo não trazem nada de novo para a teoria marxista); entre
esses dois extremos ficam os que acham possível distinguir o que é vivo daquilo
que é morto. Entre o que é vivo, são geralmente considerados a crítica de
Gandhi ao industrialismo, a sua concepção de um Estado de não-violência, a sua
filosofia dos conflitos de grupo etc.
Gandhi, em sua doutrina do satyagraha, distingue três tipos
de não-violência: a "não-violência do fraco", a "não-violência
do covarde" e a "não-violência do forte". Por
"não-violência do fraco", Gandhi entende a posição daqueles que numa
situação conflitante aguda não recorrem ao uso da violência por não possuir os
meios para tal fim; por "não-violência do covarde", ele denuncia a
atitude daqueles que fogem da violência por pura covardia ou por outros motivos
sempre egoístas; por "não-violência do forte", ele aponta para
aquelas pessoas que podem fazer uso da violência, mas não o fazem por acharem
que a não-violência é superior à violência.
A doutrina da não-violência de Gandhi não é tanto a que prescreve
abstenção da violência, mas aquela que leva à maior redução possível da
violência. Com base nessa norma, não se pode excluir a priori o
recuso à violência armada, na medida em que, numa determinada situação de
conflito, é uma questão empírica e não teórica, o saber qual das duas
(violência armada e não-violência) conduz à maior redução da violência.
Contudo, Ghandhi tinha a plena convicção de que a violência armada produziria
mais violência do que a não-violência.
Reflitamos sobre as atitudes desse nobre espírito. Quem sabe não
tenhamos muito que aprender com sua filosofia de vida a respeito da não-violência.
Fonte de Consulta
BOBBIO, N., MATTEUCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de Política.
2. ed., Brasília, UNB, 1986.
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