30 julho 2024

Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina

O livro Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina, de Was Rahman, com tradução de Lana Lim e Anna Lim, editadp pelo Senac, em 2024, apresenta-nos os principais conceitos relacionados à inteligência artificial e ao aprendizado de máquina, explicando do que se trata, como surgiram, quais são suas principais aplicações e como têm transformado a sociedade.

Em seu prefácio, ANAND SRINIVASAN, líder global de TMT & analista de tecnologia sênior Bloomberg Intelligence, Pennsylvania, EUA, mostra-nos, de forma sintética todo o conteúdo do livro. Eis o panorama traçado por ele

“A obra de Was Rahman sobre inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina (AM) é um conciso panorama das formas como essas fortes tendências moldarão nosso cotidiano pelas próximas décadas. O autor tece uma narrativa cativante que engloba desde os primórdios até os dias atuais, e oferece uma perspectiva para a utilização dessa tecnologia no futuro. 

A partir do panorama histórico traçado por Rahman, pode-se fazer uma rica análise sobre como filósofos, matemáticos, cientistas e engenheiros contribuíram para a forma atual da IA. Com destreza, o autor concatena os resultados de projetos iniciais, desde o British Science Research Council até os progressos feitos pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Darpa, do inglês Defense Advanced Research Projects Agency), pelo Dartmouth College e pelo governo japonês. Ele nos lembra de como Hollywood atiçou a criatividade com J.A.R.V.I.S. (Just A Rather Very Intelligent System ou Apenas um sistema bastante inteligente) em Homem de ferro, e nos fez temer as possibilidades sinistras de Hal em 2001: Uma odisseia no espaço.

Como os seis conceitos principais de Rahman para a IA e o AM são bem definidos e amplamente aplicáveis em uma série de usos, desde a visão computacional até o processamento de linguagem natural (PLN), passando pela automação de processos, os leitores se identificarão com a alegria desse aprendizado profundo, ainda que vinda do ensino a uma máquina.

Esta é uma obra necessária para as mentes curiosas de líderes empresariais, cientistas, médicos, educadores e estudantes. Todos encontrarão algo de útil aqui; desde a empresa que precisa de uma análise dos pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças da IA, até o estudante que considera diferentes campos de estudo ou de carreira. Para oferecer aos leitores uma compreensão mais ampla de como, quando e onde a IA pode ser usada, Rahman fala sobre as aplicações mais comuns dela no dia a dia — alto-falantes inteligentes, automação residencial, sistemas de navegação, algoritmos de previsão de intenção de compra, cotações de seguro e logística — e outras, como recursos humanos, em que o emprego de IA é complexo do ponto de vista jurídico.

Muito se sabe a respeito da IA, mas também há muito que sequer se sabe que não se sabe. E, embora alguns temam esse futuro, Rahman aborda questões cruciais, como controle, moralidade e legalidade, das quais as gigantes da IA — Amazon, Facebook, Alibaba e Google — tentam ter uma sólida compreensão a respeito.

Além de apresentar suas próprias visões sobre o futuro da IA, Rahman assimila as concepções de alguns dos grandes pensadores do tema, como Kurzweil, Asimov, Kaku, Feynman, Toffler e Webb. O que sabemos é que teremos limitadas ferramentas de IA para melhorar drasticamente a qualidade da vida humana para essa geração, ao mesmo tempo em que avançamos seu escopo, e ainda refletiremos sobre a utopia ou o medo da singularidade que possa advir da IA em potencial”.

24 julho 2024

Antifrágil

Menos é mais e, geralmente, mais eficaz

Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos, de Nassim Nicholas Taleb, com tradução de Eduardo Rieche, foi editado pela Best Business em 2015. O livro foi escrito segundo os seus interesses intelectuais e filosóficos em aleatoriedade e incerteza como também em função de sua profissão de “especialista em volatilidade”. Eis como se expressa no prólogo: “ao escrever, sinto-me corrupto e antiético se tiver de procurar um assunto em uma biblioteca como parte do próprio ato de escrever. Isso age como um filtro — e é meu o único filtro”. 

Da mesma forma que o vento apaga uma vela e energiza o fogo, a aleatoriedade, a incerteza e caos devem fornecer elementos para domesticar, dominar e conquistar o invisível, o inexplicável. Muitas coisas se beneficiam do acaso, do inesperado. Nesse sentido, a antifragilidade não se resume à resiliência, ou à robustez, mas significa apreciar erros, capacitando-nos para lidar com o desconhecido. Acha que aqueles que se colocam como superprotetores tentando nos ajudar são, na realidade, os que mais nos prejudicam.

Comparando esta obra com A lógica do Cisne Negro e Iludido pelo acaso, de sua autoria, acredita que Antifrágil seria o volume principal, e os outros dois uma espécie de apêndice, ou seja, de menor importância. A lógica do Cisne Negro e Iludido pelo acaso foram escritos para nos convencer de uma situação terrível. O “presente livro parte do pressuposto de que não é preciso convencer ninguém de que (a) os Cisnes Negros dominam a sociedade e a história (e as pessoas, por causa da racionalização ex post, se julgam capazes de compreendê-los); (b) como consequência, não sabemos bem o que está acontecendo, principalmente sob não linearidades graves; de modo que podemos chegar aos assuntos práticos imediatamente”.

Critica o fragilista médico, que nega exageradamente a capacidade natural do corpo para se curar; o fragilista político, que confunde a economia com uma máquina de lavar roupa que precisa de reparos constantes (feitos por ele) e a faz pifar; o fragilista psiquiátrico, que medica crianças para “melhorar” sua vida intelectual e emocional; a fragilista mãe-coruja; o fraglista financeiro; o fraglista militar; o fragilista prognosticador; e muitos outros.

Como um insight, percebeu que a fragilidade — ainda sem uma definição técnica — podia ser expressa como aquilo que não aprecia a volatilidade. E aquilo que não aprecia a volatilidade não aprecia a aleatoriedade, a incerteza, a desordem, os erros, os agentes estressores etc. Pensa que os sistemas antifrágeis (até certo ponto) se beneficiam, enquanto os sistemas frágeis são penalizados por quase todos eles. Procura demonstrar que há um roubo de antifragilidade por pessoas que estão “arbitrando” o sistema. 

21 julho 2024

Lógica do Cisne Negro, A

A lógica do Cisne Negro: o Impacto do Altamente Improvável é um livro escrito por Nassim Nicholas Taleb, com tradução de Marcelo Schild e revisão técnica Mário Pina. Editado pela Best Seller, em 2015, copyright de 2007.

Os cisnes brancos faziam parte de uma crença inquestionável por ser absolutamente confirmada por evidências empíricas. Com a descoberta da Austrália, observou-se o aparecimento dos cisnes negros. Percebe-se, assim, que o Cisne Negro é um Outlier [de valor atípico, discrepante], pois está fora do âmbito das expectativas comuns. Nesse sentido, manias passageiras, epidemias, moda, ideias, a emergência de gêneros e de escolas artísticas seguem essa dinâmica do Cisne Negro. 

A ideia central deste livro é realçar a cegueira da humanidade em relação à aleatoriedade, particularmente os grandes desvios. Citemos, como exemplo, a derrubada das Torres Gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, em que cerca de 2.500 pessoas foram mortas diretamente pelo grupo de Bin Laden. Outro exemplo: a tsunami no oceano Pacífico em dezembro de 2004. Caso fosse esperado, não teria causado os estragos que causou.

A lógica do Cisne Negro torna o que você não sabe mais relevante do que aquilo que você sabe. Assim, muitos Cisnes Negros podem ser causados ou exacerbados por serem inesperados. Para o autor, um evento raro equivale a incerteza, por isso este é um livro sobre incerteza.

Taleb acha que há duas maneiras de abordarmos o conhecimento. A primeira é excluir o extraordinário e concentrar-se no “normal”. O examinador deixa de lado as “peculiaridades” e estuda casos comuns. A segunda abordagem é considerar que para que se possa compreender um fenômeno é necessário levar em conta primeiro os extremos — especialmente se, como o Cisne Negro, eles carregarem um efeito cumulativo extraordinário.

Resumindo: "neste ensaio (pessoal), corro riscos e declaro, contra muitos de nossos hábitos de pensamento, que o mundo é dominado pelo extremo, pelo desconhecido e pelo muito improvável (improvável segundo nosso conhecimento corrente) — e que passamos o tempo todo envolvidos em minúcias, concentrados no conhecido e no que se repete".

Jean-Olivier Tedesco, futuro novelista e amigo do autor, advertiu-o: “Não corro para pegar trens.” O que isso significa? Ao nos recusarmos a correr para pegar trens, sentimo-nos donos do nosso tempo, da nossa agenda e da nossa vida. "Perder um trem só é doloroso se você correr para pegá-lo!  Da mesma forma, não estar de acordo com a ideia de sucesso que as pessoas esperam de você só é doloroso se for isso que estiver procurando".

04 julho 2024

Atrocidades em "O Arquipélago Gulag"

O Arquipélago Gulag foi escrito por Aleksandr Soljenítsin (1918-2008), combatente na Segunda Guerra Mundial. Esteve preso e internado em campos de trabalho forçado de 1945 a 1953, após críticas privadas a Stalin. Nele estão relatados as prisões, as torturas e a vida dos detentos. O que impressiona não é o facto de haver no livro alguns erros factuais, mas o facto de que estes sejam tão poucos, considerando que o autor não tinha acesso aos arquivos, nem aos documentos oficiais.

No Dicionário da Língua Russa, de Dal, faz-se a seguinte distinção: o inquérito difere da instrução porque é feito para apurar previamente se há fundamento para a instrução. Mas isso é do dicionário; na prática, não há inquérito, investigação, mas simplesmente a instrução. Assemelha-se ao ditado: “Deem-me a pessoa que eu arrumo o crime”.  

Como os carrascos medievais, os nossos comissários instrutores, procuradores e juízes aceitaram considerar como prova principal de culpa a confissão do acusado. Os métodos utilizados para obtenção da confissão são: a persuasão num tom de franqueza; o insulto grosseiro; o golpe do contraste psicológico; a humilhação prévia; a intimidação (método mais utilizado e muito variado); a mentira; o jogo com a afeição às pessoas de família; o método sonoro; o espancamento, sem deixar marcas.  

"Privação do sono, método que a Idade Média não avaliara devidamente: não sabia como é estreita a margem em que o homem conserva a sua personalidade. A privação do sono é um grande meio de tortura e que não deixa quaisquer sinais visíveis, nem sequer motivo para queixas, caso surgisse amanhã uma inspeção nunca vista. «Não o deixaram dormir? Mas isto não é uma casa de repouso!» Pode-se dizer que a privação do sono se tornou um meio universal nos Órgãos, que saiu da categoria das torturas para a regra da segurança do Estado". 

Um caso interessante. "Natália Postroieva conta que uma vez estava a ser levada para o interrogatório por uma vigilante impassível, muda, zarolha, e de repente algures ao lado da Casa Grande começaram a cair bombas, parecia que iriam cair em cima delas. E a vigilante agarrou-se à sua prisioneira e horrorizada abraçou-a, procurando o calor e a compaixão humana. Mas passou o bombardeamento. E a zarolha voltou ao seu estado anterior: «Ponha as mãos atrás das costas! Avance!»".

Arquipélago está já traduzido em dezenas de línguas, foi reeditado muitas vezes, debatido em centenas de artigos — mas na URSS, por tê-lo lido clandestinamente em cópias de má qualidade, quase ilegíveis, pode-se ir parar à prisão. Como a humanidade se degrada? Como ainda estamos longe da regra de ouro ensinada pela maioria das religiões?