O Cardeal Mazarin escreveu, há 300 anos, o Breviário dos Políticos e, conforme sua
contracapa, ele não perdeu sua atualidade. “Dos tempos em que reis disputavam territórios
em sua carruagens a este mundo globalizado, a luta pelo poder se dá sob as mesmas
regras, em que a lógica é a dissimulação, do cinismo e da hipocrisia”.
Há apresentação de Bolívar Lamounier e prefácio de Umberto
Eco. Lamounier salienta que Mazarin trata tão-somente da eficácia, deixando de lado os fins últimos, da ação política. A eficácia
que interessa a Mazarin é a eficácia na busca e no exercício do poder. Para Umberto
Eco, livros desse gênero devem ser lidos, mas dificilmente eles servem aos
homens de poder, não porque essas máximas não estejam corretas, mas porque o
homem de poder já sabe, talvez por
instinto.
Na primeira parte do livro, trata do conhece-te a ti mesmo e do conhece
aos outros. Nas mãos de Mazarin, o conhece-te
a ti mesmo perde a conceituação socrática e se torna bastante estreita,
designando apenas aquele conhecimento prático de sua própria “imagem” que todo político
precisa ter, se quiser ter êxito na busca de apoio de outras pessoas. No conhece aos outros, o político precisa
prever as ações dos adversários, para melhor se defender.
Na Segunda Parte, "Os Homens em Sociedade", há 62 seções que
tratam sobre a boa reputação, os afazeres, os benefícios, aconselhar, os
segredos, agir com prudência, as honrarias, as solicitações, sair de apuros, inovações
etc.
Seus axiomas são:
1. Age em relação a teus amigos como se eles
devessem tornar-se um dia teus inimigos.
2. Numa comunidade de interesses, há perigo logo
que um membro torna-se demasiado poderoso.
3. Quando te empenhas em obter algo, que ninguém o
descubra antes que o tenhas efetivamente obtido.
4. É preciso conhecer o mal para poder combatê-lo.
5. Tudo o que podes resolver pacificamente, não
tentes resolvê-lo por uma guerra ou um processo judicial.
6. Mais vale aceitar um pequeno prejuízo do que
fazer avançar as negociações de outrem, que delas esperas grandes benefícios.
7. Mostrar-se demasiado duro em negociações é
expor-se a grandes perigos.
8. O centro sempre vale mais que os extremos.
9. Deves saber tudo sem jamais dizer nada,
mostrar-te amável com todos e não dar tua confiança a ninguém.
10. O homem feliz é o que permanece a igual
distância de todos os partidos.
11. Conserva sempre alguma desconfiança em relação
a cada um, e convence-te de que as pessoas não fazem melhor opinião de ti que
dos outros.
12. Quando um partido é numeroso e forte, mesmo se
não o apoias, jamais fales mal dele.
13. Desconfia de tudo aquilo a que te arrastam teus
sentimentos.
14. Para oferecer um presente ou dar uma festa,
medita tua estratégia como se partisses em guerra.
15. Não deixes um segredo se aproximar de ti, não
mais que um prisioneiro evadido que teria jurado degolar-te.
Em resumo, mantém sempre presentes no espírito estes cinco preceitos:
1. Simula.
2. Dissimula.
3. Não confies em ninguém.
4. Fala bem de todo o mundo.
5. Reflete antes de agir.
MAZARIN, Cardeal. Breviário dos Políticos. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1997.
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