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29 julho 2025

Planejamento e Ordem Espontânea

A economia clássica pressupunha que o equilíbrio de mercado se daria de forma espontânea.

Na Segunda Guerra Mundial, observou-se um aumento considerável do desemprego. Em vista disso, Keynes concluiu que a solução para esse desemprego involuntário fugia ao controle dos trabalhadores e das empresas. Nesse caso, a solução seria o governo gastar mais na economia, de modo que a procura global de produtos crescesse, e isso estimularia as empresas a admitir mais trabalhadores. Hayek, Mises — e a Escola Austríaca — eram contrários.

Hayek, em seus textos, defendia o liberalismo clássico: apoio aos mercados livres, apoio à propriedade privada e profundo ceticismo com a capacidade dos governos de moldar a sociedade. Em seu livro, O Caminho da servidão, diz que todas as tentativas de impor uma ordem coletiva na sociedade estão fadadas ao fracasso, pois todo o autoritarismo atua contra “ordem espontânea” do mercado; ele só pode ocorrer com certo grau de força ou coerção.

Tanto Hayek quanto Mises achavam que os governos autoritários não se informam sobre o funcionamento do mercado e, nesse sentido, o planejamento está destinado a fracassar. Mises, por exemplo, disse que o socialismo — no sentido de planejamento central — não é viável economicamente. Não há meios racionais de precificação dos produtos. É a “abolição da economia racional”. Só o mercado livre, com propriedade privada, pode propiciar a base das decisões de preço descentralizados que uma complexa economia moderna exige.

Margareth Thatcher, no Reino Unido, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, praticaram o neoliberalismo, que segue os pontos das Escola Austríaca.

Fonte de Consulta

O Livro da Economia. Tradução Carlos S. Mendes Rosa. São Paulo: Globo 2013.


10 agosto 2021

A Escola Austríaca e a Escola Neoclássica

Para os economistas neoclássicos, a avaliação do êxito comparativo dos diferentes paradigmas só pode ser efetuada em termos estritamente empíricos e quantitativos. Posição da Escola Austríaca: como a evidência empírica nunca é incontroversa, as doutrinas errôneas não são imediatamente identificadas e rejeitadas.

Após receber uma aparente confirmação empírica, mesmo que a teoria subjacente esteja errada, podem passar por válidas durante muito tempo. Perdendo a atualidade, o erro teórico cometido na análise passa despercebido ou fica oculto para a maioria dos pessoas.

É possível que havendo procura por agentes econômicos [autoridades públicas, líderes sociais e cidadãos em geral] de previsões concretas  para as políticas que podem ser tomadas, ela [a procura] seja atendida por uma oferta de “analistas” e “engenheiros sociais” que dão aos seus clientes aquilo que estes querem obter com uma aparência de respeitabilidade e legitimidade científicas.

Mises, no entanto, alerta: “a aparição do economista profissional é uma consequência do intervencionismo, e atualmente ele não é mais do que um especialista que procura descobrir as fórmulas que permitam ao governo intervir melhor na vida mercantil. São peritos em matéria de legislação econômica, legislação que na realidade apenas visa perturbar o funcionamento do mercado livre” 

Em alternativa aos critérios empíricos de êxito, os economistas da Escola Austríaca propõem um critério qualitativo. De acordo com este critério, um paradigma terá tido tanto mais êxito quanto maior for o número de desenvolvimentos teóricos corretos e de importância para a evolução da humanidade a que tenha dado origem. 

O que parece claro é que se desejamos vencer a inércia provocada pela constante procura social de previsões corretas, de receitas de intervenção e de estudos empíricos, que são facilmente aceitas apesar de incorporarem importantes vícios teóricos, será preciso continuar a alargar e aprofundar no âmbito da nossa ciência a abordagem subjetivista proposta pela Escola Austríaca.

Face a estas perigosas tendências do pensamento humano, que tenderão a aflorar de forma recorrente, apenas dispomos da metodologia muito mais realista, frutífera e humanista que tem vindo a ser desenvolvida pelos teóricos da Escola Austríaca que, esperamos, haverá de ter uma importância cada vez maior no futuro da economia.

Fonte de Consulta

HUERTA de SOTO, Jesus. A Escola Austríaca: mercado e criatividade empresarial. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

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A Escola Austríaca de Economia surgiu em 1871, com a publicação do livro de Carl Menger (1840-1821) intitulado Princípios de Economia Política.

De acordo com Jesús Huerta de Soto, o seu mérito consistiu em recolher e impulsionar uma tradição do pensamento de origem católica e europeia continental que se pode fazer remontar até ao nascimento do pensamento filosófico na Grécia e, de forma ainda mais intensa, até à tradição de pensamento jurídico, filosófico e político da Roma clássica. 

Quem foram estes precursores intelectuais da moderna Escola Austríaca de Economia?  A maioria deles foram dominicanos e jesuítas, professores de moral e teologia em universidades que, como a de Salamanca e a de Coimbra, constituíram os focos mais importantes do pensamento durante o Século de Ouro espanhol.  Analisaremos em seguida, de forma sintética, quais foram as suas principais contribuições para o que mais tarde seriam os elementos básicos da análise econômica austríaca.

Neste seu artigo analisa também a decadência da tradição escolástica e a influência negativa de Adam Smith.

De fato, pode-se afirmar que o principal mérito de Carl Menger consistiu em redescobrir e impulsionar esta tradição católica continental de origem espanhola que, praticamente, estava esquecida e havia caído em decadência como consequência, por um lado, do triunfo da reforma protestante e da lenda negra contra tudo o que fosse espanhol e, por outro lado e, sobretudo, devido à muito negativa influência que as teorias de Adam Smith e do resto dos seus seguidores da Escola Clássica da Economia tiveram na história do pensamento econômico. Com efeito, como indica Murray N. Rothbard, Adam Smith abandonou as contribuições anteriores centradas na teoria subjetiva do valor, a função empresarial e o interesse em explicar os preços que se verificam no mercado real, substituindo a todas pela teoria do valor trabalho, sobre a qual Marx construirá, como conclusão natural, toda a teoria socialista da exploração. (https://mises.org.br/artigos/557/as-raizes-escolasticas-da-escola-austriaca-e-o-problema-com-adam-smith)

 

Resposta a alguns Comentários Críticos ao Paradigma Austríaco

A) “As duas abordagens (austríaca e neoclássica) não se excluem, sendo até complementares”.

A tese da compatibilidade teria fundamento se o método neoclássico (baseado no equilíbrio, na constância e numa concepção estreita de otimização e racionalidade) correspondesse à forma real como os seres humanos atuam e não tendesse, como acreditam os austríacos, a viciar em grande medida qualquer análise teórica. 

B) “Os austríacos não deveriam criticar os neoclássicos por utilizar pressupostos simplificadores que ajudam a entender a realidade”

O que os austríacos criticam aos neoclássicos não é a natureza simplificadora dos seus pressupostos, mas sim, precisamente, o fato de esses pressupostos serem contrários à realidade empírica de como se manifesta e atua o ser humano (de maneira dinâmica e criativa).

C) “Os austríacos falham no momento de formalizar as suas proposições teóricas”

O uso do formalismo matemático é mais um vício do que uma virtude, uma vez que é uma linguagem simbólica construída de acordo com as exigências do mundo das ciências naturais, da engenharia e da lógica, campos onde o tempo subjetivo e a criatividade empresarial não estão presentes.

D) “Os austríacos produzem muito poucos trabalhos de tipo empírico”

Os austríacos consideram que existe um excesso de produção de trabalhos empíricos e uma escassez relativa de estudos teóricos que sejam capazes de nos permitir entender e interpretar o que acontece na realidade.

E) “Os austríacos renunciam à previsão no âmbito da Economia”

Preocupam-se mais em construir um esquema ou arsenal de conceitos e leis teóricas que permitam interpretar a realidade e ajudem os seres humanos que atuam (empresários) a tomar decisões com maiores possibilidades de êxito.

F) “Os austríacos carecem de critérios empíricos para validar as suas teorias”

A validação empírica das teorias ignora que em economia a “evidência” empírica nunca é incontroversa uma vez que se refere a fenômenos históricos de natureza complexa que não permitem a experimentação laboratorial, na qual se isolam os fenômenos relevantes e se mantêm constantes todos os demais aspectos que possam exercer alguma influência sobre a análise. Ou seja, as leis econômicas são sempre leis ceteris paribus, enquanto que na realidade jamais se verifica este pressuposto de constância. 

G) “A acusação de dogmatismo”

Paradoxalmente, a arrogância e o dogmatismo radicam na forma habitual de os economistas neoclássicos apresentarem o que consideram ser o ponto de vista mais característico da economia, quando se centram exclusivamente sobre a base dos princípios do equilíbrio, da maximização e da constância das preferências.

Fonte de Consulta 

HUERTA de SOTO, Jesus. A Escola Austríaca: mercado e criatividade empresarial. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.


08 agosto 2021

Diferenças Essenciais entre a Escola Austríaca e a Neoclássica

Jesus Huerta de Soto, em seu livro A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial, anota 17 diferenças entre a Escola Austríaca e a Neoclássica. Vejamos:

1. Conceito de economia (princípio essencial):

Paradigma Austríaco:  Teoria da ação humana entendida como um processo dinâmico (praxeologia).

Paradigma Neoclássico: Teoria da decisão: maximização sujeita a restrições (conceito estrito de “racionalidade”).

2. Perspectiva metodológica:

Paradigma Austríaco:  Subjetivismo.

Paradigma Neoclássico: Estereótipo do individualismo metodológico (objetivista).

3. Protagonista dos processos sociais:

Paradigma Austríaco:  Empreendedor criativo.

Paradigma Neoclássico: Homo oeconomicus.

4. Possibilidade de os agentes se equivocarem a priori e natureza do ganho empresarial:

Paradigma Austríaco:  Admite-se a possibilidade de serem cometidos erros empresariais puros que poderiam ter sido evitados com maior perspicácia empresarial na percepção de oportunidades de lucro.

Paradigma Neoclássico: Não se admite que existam erros dos quais alguém se possa arrepender, uma vez que todas as decisões passadas se racionalizam em termos de custos e benefícios.

Os lucros empresariais são considerados como a renda de mais um fator de produção.

5. Concepção da informação:

Paradigma Austríaco:  O conhecimento e a informação são subjetivos, estão dispersos e alteram-se constantemente (criatividade empresarial). Distinção radical entre conhecimento científico (objetivo) e prático (subjetivo).

Paradigma Neoclássico: Pressupõe-se a existência de informação perfeita (em termos certos ou probabilísticos), objetiva e constante a propósito de fins e de meios. Não se distingue entre conhecimento prático (empresarial) e científico.

6. Ponto de referência:

Paradigma Austríaco:  Processo geral com tendência coordenadora. Não se distingue entre a micro e a macroeconomia: todos os problemas econômicos são estudados de forma inter-relacionada.

Paradigma Neoclássico: Modelo de equilíbrio (geral ou parcial). Separação entre a micro e a macroeconomia.

7. Conceito de «concorrência»:

Paradigma Austríaco:  Processo de rivalidade empresarial.

Paradigma Neoclássico: Situação ou modelo de «concorrência perfeita».

8. Conceito de custo:

Paradigma Austríaco:  Subjetivo (depende da capacidade empresarial para descobrir novos fins alternativos).

Paradigma Neoclássico: Objetivo e constante (pode ser conhecido e medido por uma terceira parte).

9. Formalismo:

Paradigma Austríaco:  Lógica verbal (abstrata e formal) que permite a consideração do tempo subjetivo e da criatividade humana.

Paradigma Neoclássico: Formalismo matemático (linguagem simbólica própria da análise de fenômenos atemporais e constantes).

10. Relação com o mundo empírico

Paradigma Austríaco:  Raciocínios apriorístico-dedutivos: Separação radical e, quando necessário, coordenação entre teoria (ciência) e história (arte). A história não pode ser utilizada para testar as teorias.

Paradigma Neoclássico: Verificação empírica das hipóteses (pelo menos retoricamente).

11. Possibilidades de previsão específica:

Paradigma Austríaco:  Impossível, uma vez que o que vai suceder no futuro depende de um conhecimento empresarial ainda não criado. Apenas são possíveis pattern predictions de tipo qualitativo e teórico sobre as consequências descoordenadoras do intervencionismo.

Paradigma Neoclássico: A previsão é um objetivo que se procura de forma deliberada.

12. Responsável pela previsão

Paradigma Austríaco:  O empresário.

Paradigma Neoclássico: O analista econômico (engenheiro social).

13. Estado atual do paradigma:

Paradigma Austríaco:  Notável renascimento nos últimos 25 anos (especialmente depois da crise do keynesianismo e da queda do socialismo real).

Paradigma Neoclássico: Situação de crise e mudança acelerada

14. Quantidade de “capital humano” in vestido:

Paradigma Austríaco:  Minoritário, mas crescente

Paradigma Neoclássico: Majoritário, mas com sinais de crescente dispersão e desagregação.

15. Tipo de “capital humano” investido:

Paradigma Austríaco:  Teóricos e filósofos multidisciplinares. Liberais radicais.

Paradigma Neoclássico: Especialistas em intervencionismo econômico (piecemeal social engineering). Grau de compromisso com a liberdade muito variável.

16. Contribuições mais recentes:

Paradigma Austríaco:  Análise crítica da coação institucional (socialismo e intervencionismo). Teoria do sistema bancário livre e dos ciclos econômicos. Teoria evolutiva das instituições (jurídicas, morais). Teoria da função empresarial. Análise crítica do conceito de «Justiça Social».

Paradigma Neoclássico: Teoria da Escolha Pública. Análise econômica da família. Análise econômica do direito. Nova macroeconomia clássica. Teoria econômica da “informação” (economics of information). Novos keynesianos.

17. Posição relativa de diferentes autores:

Paradigma Austríaco: Rothbard, Mises, Hayek, Kirzner

Paradigma Neoclássico: Coase, Friedman, Becker, Samuelson, Stiglitz


Extraído de: HUERTA DE SOTO, Jesus. A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial. Tradução de André Azevedo Alves. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.