Jesus Huerta de Soto, em seu livro A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial, anota 17 diferenças entre a Escola Austríaca e a Neoclássica. Vejamos:
1. Conceito de economia (princípio
essencial):
Paradigma Austríaco: Teoria da ação humana entendida como um
processo dinâmico (praxeologia).
Paradigma Neoclássico: Teoria da decisão: maximização
sujeita a restrições (conceito estrito de “racionalidade”).
2. Perspectiva metodológica:
Paradigma Austríaco: Subjetivismo.
Paradigma Neoclássico: Estereótipo do individualismo
metodológico (objetivista).
3. Protagonista dos processos
sociais:
Paradigma Austríaco: Empreendedor criativo.
Paradigma Neoclássico: Homo oeconomicus.
4. Possibilidade de os agentes se equivocarem
a priori e natureza do ganho empresarial:
Paradigma Austríaco: Admite-se a possibilidade de serem
cometidos erros empresariais puros que poderiam ter sido evitados com maior perspicácia
empresarial na percepção de oportunidades de lucro.
Paradigma Neoclássico: Não se admite que existam erros dos
quais alguém se possa arrepender, uma vez que todas as decisões passadas se
racionalizam em termos de custos e benefícios.
Os lucros empresariais são
considerados como a renda de mais um fator de produção.
5. Concepção da informação:
Paradigma Austríaco: O conhecimento e a informação são subjetivos,
estão dispersos e alteram-se constantemente (criatividade empresarial). Distinção
radical entre conhecimento científico (objetivo) e prático (subjetivo).
Paradigma Neoclássico: Pressupõe-se a existência de informação
perfeita (em termos certos ou probabilísticos), objetiva e constante a
propósito de fins e de meios. Não se distingue entre conhecimento prático (empresarial)
e científico.
6. Ponto de referência:
Paradigma Austríaco: Processo geral com tendência coordenadora. Não
se distingue entre a micro e a macroeconomia: todos os problemas econômicos são
estudados de forma inter-relacionada.
Paradigma Neoclássico: Modelo de equilíbrio (geral ou parcial).
Separação entre a micro e a macroeconomia.
7. Conceito de «concorrência»:
Paradigma Austríaco: Processo de rivalidade empresarial.
Paradigma Neoclássico: Situação ou modelo de «concorrência perfeita».
8. Conceito de custo:
Paradigma Austríaco: Subjetivo (depende da capacidade empresarial
para descobrir novos fins alternativos).
Paradigma Neoclássico: Objetivo
e constante (pode ser conhecido e medido por uma terceira parte).
9. Formalismo:
Paradigma Austríaco: Lógica verbal (abstrata e formal) que permite
a consideração do tempo subjetivo e da criatividade humana.
Paradigma Neoclássico: Formalismo matemático (linguagem simbólica
própria da análise de fenômenos atemporais e constantes).
10. Relação com o mundo empírico
Paradigma Austríaco: Raciocínios apriorístico-dedutivos: Separação
radical e, quando necessário, coordenação entre teoria (ciência) e história (arte).
A história não pode ser utilizada para testar as teorias.
Paradigma Neoclássico: Verificação empírica das hipóteses (pelo
menos retoricamente).
11. Possibilidades de previsão específica:
Paradigma Austríaco: Impossível, uma vez que o que vai suceder no
futuro depende de um conhecimento empresarial ainda não criado. Apenas são
possíveis pattern predictions de tipo qualitativo e teórico sobre as
consequências descoordenadoras do intervencionismo.
Paradigma Neoclássico: A previsão é um objetivo que se procura
de forma deliberada.
12. Responsável pela previsão
Paradigma Austríaco: O empresário.
Paradigma Neoclássico: O
analista econômico (engenheiro social).
13. Estado atual do paradigma:
Paradigma Austríaco: Notável renascimento nos últimos 25 anos
(especialmente depois da crise do keynesianismo e da queda do socialismo real).
Paradigma Neoclássico: Situação de crise e mudança acelerada
14. Quantidade de “capital humano” in
vestido:
Paradigma Austríaco: Minoritário, mas crescente
Paradigma Neoclássico: Majoritário,
mas com sinais de crescente dispersão e desagregação.
15. Tipo de “capital humano” investido:
Paradigma Austríaco: Teóricos e filósofos multidisciplinares. Liberais
radicais.
Paradigma Neoclássico: Especialistas
em intervencionismo econômico (piecemeal social engineering). Grau de
compromisso com a liberdade muito variável.
16. Contribuições mais recentes:
Paradigma Austríaco: Análise crítica da coação institucional (socialismo
e intervencionismo). Teoria do sistema bancário livre e dos ciclos econômicos. Teoria
evolutiva das instituições (jurídicas, morais). Teoria da função empresarial. Análise
crítica do conceito de «Justiça Social».
Paradigma Neoclássico: Teoria da Escolha Pública. Análise
econômica da família. Análise econômica do direito. Nova macroeconomia
clássica. Teoria econômica da “informação” (economics of information). Novos
keynesianos.
17. Posição relativa de diferentes autores:
Paradigma Austríaco: Rothbard,
Mises, Hayek, Kirzner
Paradigma Neoclássico: Coase, Friedman, Becker, Samuelson, Stiglitz
Extraído de: HUERTA DE SOTO, Jesus. A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial. Tradução de André Azevedo Alves. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.
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