08 agosto 2021

Diferenças Essenciais entre a Escola Austríaca e a Neoclássica

Jesus Huerta de Soto, em seu livro A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial, anota 17 diferenças entre a Escola Austríaca e a Neoclássica. Vejamos:

1. Conceito de economia (princípio essencial):

Paradigma Austríaco:  Teoria da ação humana entendida como um processo dinâmico (praxeologia).

Paradigma Neoclássico: Teoria da decisão: maximização sujeita a restrições (conceito estrito de “racionalidade”).

2. Perspectiva metodológica:

Paradigma Austríaco:  Subjetivismo.

Paradigma Neoclássico: Estereótipo do individualismo metodológico (objetivista).

3. Protagonista dos processos sociais:

Paradigma Austríaco:  Empreendedor criativo.

Paradigma Neoclássico: Homo oeconomicus.

4. Possibilidade de os agentes se equivocarem a priori e natureza do ganho empresarial:

Paradigma Austríaco:  Admite-se a possibilidade de serem cometidos erros empresariais puros que poderiam ter sido evitados com maior perspicácia empresarial na percepção de oportunidades de lucro.

Paradigma Neoclássico: Não se admite que existam erros dos quais alguém se possa arrepender, uma vez que todas as decisões passadas se racionalizam em termos de custos e benefícios.

Os lucros empresariais são considerados como a renda de mais um fator de produção.

5. Concepção da informação:

Paradigma Austríaco:  O conhecimento e a informação são subjetivos, estão dispersos e alteram-se constantemente (criatividade empresarial). Distinção radical entre conhecimento científico (objetivo) e prático (subjetivo).

Paradigma Neoclássico: Pressupõe-se a existência de informação perfeita (em termos certos ou probabilísticos), objetiva e constante a propósito de fins e de meios. Não se distingue entre conhecimento prático (empresarial) e científico.

6. Ponto de referência:

Paradigma Austríaco:  Processo geral com tendência coordenadora. Não se distingue entre a micro e a macroeconomia: todos os problemas econômicos são estudados de forma inter-relacionada.

Paradigma Neoclássico: Modelo de equilíbrio (geral ou parcial). Separação entre a micro e a macroeconomia.

7. Conceito de «concorrência»:

Paradigma Austríaco:  Processo de rivalidade empresarial.

Paradigma Neoclássico: Situação ou modelo de «concorrência perfeita».

8. Conceito de custo:

Paradigma Austríaco:  Subjetivo (depende da capacidade empresarial para descobrir novos fins alternativos).

Paradigma Neoclássico: Objetivo e constante (pode ser conhecido e medido por uma terceira parte).

9. Formalismo:

Paradigma Austríaco:  Lógica verbal (abstrata e formal) que permite a consideração do tempo subjetivo e da criatividade humana.

Paradigma Neoclássico: Formalismo matemático (linguagem simbólica própria da análise de fenômenos atemporais e constantes).

10. Relação com o mundo empírico

Paradigma Austríaco:  Raciocínios apriorístico-dedutivos: Separação radical e, quando necessário, coordenação entre teoria (ciência) e história (arte). A história não pode ser utilizada para testar as teorias.

Paradigma Neoclássico: Verificação empírica das hipóteses (pelo menos retoricamente).

11. Possibilidades de previsão específica:

Paradigma Austríaco:  Impossível, uma vez que o que vai suceder no futuro depende de um conhecimento empresarial ainda não criado. Apenas são possíveis pattern predictions de tipo qualitativo e teórico sobre as consequências descoordenadoras do intervencionismo.

Paradigma Neoclássico: A previsão é um objetivo que se procura de forma deliberada.

12. Responsável pela previsão

Paradigma Austríaco:  O empresário.

Paradigma Neoclássico: O analista econômico (engenheiro social).

13. Estado atual do paradigma:

Paradigma Austríaco:  Notável renascimento nos últimos 25 anos (especialmente depois da crise do keynesianismo e da queda do socialismo real).

Paradigma Neoclássico: Situação de crise e mudança acelerada

14. Quantidade de “capital humano” in vestido:

Paradigma Austríaco:  Minoritário, mas crescente

Paradigma Neoclássico: Majoritário, mas com sinais de crescente dispersão e desagregação.

15. Tipo de “capital humano” investido:

Paradigma Austríaco:  Teóricos e filósofos multidisciplinares. Liberais radicais.

Paradigma Neoclássico: Especialistas em intervencionismo econômico (piecemeal social engineering). Grau de compromisso com a liberdade muito variável.

16. Contribuições mais recentes:

Paradigma Austríaco:  Análise crítica da coação institucional (socialismo e intervencionismo). Teoria do sistema bancário livre e dos ciclos econômicos. Teoria evolutiva das instituições (jurídicas, morais). Teoria da função empresarial. Análise crítica do conceito de «Justiça Social».

Paradigma Neoclássico: Teoria da Escolha Pública. Análise econômica da família. Análise econômica do direito. Nova macroeconomia clássica. Teoria econômica da “informação” (economics of information). Novos keynesianos.

17. Posição relativa de diferentes autores:

Paradigma Austríaco: Rothbard, Mises, Hayek, Kirzner

Paradigma Neoclássico: Coase, Friedman, Becker, Samuelson, Stiglitz


Extraído de: HUERTA DE SOTO, Jesus. A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial. Tradução de André Azevedo Alves. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.


 

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