10 agosto 2021

A Escola Austríaca e a Escola Neoclássica

Para os economistas neoclássicos, a avaliação do êxito comparativo dos diferentes paradigmas só pode ser efetuada em termos estritamente empíricos e quantitativos. Posição da Escola Austríaca: como a evidência empírica nunca é incontroversa, as doutrinas errôneas não são imediatamente identificadas e rejeitadas.

Após receber uma aparente confirmação empírica, mesmo que a teoria subjacente esteja errada, podem passar por válidas durante muito tempo. Perdendo a atualidade, o erro teórico cometido na análise passa despercebido ou fica oculto para a maioria dos pessoas.

É possível que havendo procura por agentes econômicos [autoridades públicas, líderes sociais e cidadãos em geral] de previsões concretas  para as políticas que podem ser tomadas, ela [a procura] seja atendida por uma oferta de “analistas” e “engenheiros sociais” que dão aos seus clientes aquilo que estes querem obter com uma aparência de respeitabilidade e legitimidade científicas.

Mises, no entanto, alerta: “a aparição do economista profissional é uma consequência do intervencionismo, e atualmente ele não é mais do que um especialista que procura descobrir as fórmulas que permitam ao governo intervir melhor na vida mercantil. São peritos em matéria de legislação econômica, legislação que na realidade apenas visa perturbar o funcionamento do mercado livre” 

Em alternativa aos critérios empíricos de êxito, os economistas da Escola Austríaca propõem um critério qualitativo. De acordo com este critério, um paradigma terá tido tanto mais êxito quanto maior for o número de desenvolvimentos teóricos corretos e de importância para a evolução da humanidade a que tenha dado origem. 

O que parece claro é que se desejamos vencer a inércia provocada pela constante procura social de previsões corretas, de receitas de intervenção e de estudos empíricos, que são facilmente aceitas apesar de incorporarem importantes vícios teóricos, será preciso continuar a alargar e aprofundar no âmbito da nossa ciência a abordagem subjetivista proposta pela Escola Austríaca.

Face a estas perigosas tendências do pensamento humano, que tenderão a aflorar de forma recorrente, apenas dispomos da metodologia muito mais realista, frutífera e humanista que tem vindo a ser desenvolvida pelos teóricos da Escola Austríaca que, esperamos, haverá de ter uma importância cada vez maior no futuro da economia.

Fonte de Consulta

HUERTA de SOTO, Jesus. A Escola Austríaca: mercado e criatividade empresarial. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

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A Escola Austríaca de Economia surgiu em 1871, com a publicação do livro de Carl Menger (1840-1821) intitulado Princípios de Economia Política.

De acordo com Jesús Huerta de Soto, o seu mérito consistiu em recolher e impulsionar uma tradição do pensamento de origem católica e europeia continental que se pode fazer remontar até ao nascimento do pensamento filosófico na Grécia e, de forma ainda mais intensa, até à tradição de pensamento jurídico, filosófico e político da Roma clássica. 

Quem foram estes precursores intelectuais da moderna Escola Austríaca de Economia?  A maioria deles foram dominicanos e jesuítas, professores de moral e teologia em universidades que, como a de Salamanca e a de Coimbra, constituíram os focos mais importantes do pensamento durante o Século de Ouro espanhol.  Analisaremos em seguida, de forma sintética, quais foram as suas principais contribuições para o que mais tarde seriam os elementos básicos da análise econômica austríaca.

Neste seu artigo analisa também a decadência da tradição escolástica e a influência negativa de Adam Smith.

De fato, pode-se afirmar que o principal mérito de Carl Menger consistiu em redescobrir e impulsionar esta tradição católica continental de origem espanhola que, praticamente, estava esquecida e havia caído em decadência como consequência, por um lado, do triunfo da reforma protestante e da lenda negra contra tudo o que fosse espanhol e, por outro lado e, sobretudo, devido à muito negativa influência que as teorias de Adam Smith e do resto dos seus seguidores da Escola Clássica da Economia tiveram na história do pensamento econômico. Com efeito, como indica Murray N. Rothbard, Adam Smith abandonou as contribuições anteriores centradas na teoria subjetiva do valor, a função empresarial e o interesse em explicar os preços que se verificam no mercado real, substituindo a todas pela teoria do valor trabalho, sobre a qual Marx construirá, como conclusão natural, toda a teoria socialista da exploração. (https://mises.org.br/artigos/557/as-raizes-escolasticas-da-escola-austriaca-e-o-problema-com-adam-smith)

 

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