08 janeiro 2022

Velha Ordem e Nova Ordem

A Velha Ordem é caracterizada pela tirania, a exploração, a estagnação, as castas estanques, a fome etc. Ela existiu na Europa Ocidental antes do século XVIII (e continua a existir fora do Ocidente). Podemos encontrá-la no feudalismo ou no despotismo oriental. Pode-se dizer que a vida era “sórdida brutal e curta”. Maine denominou-a de “sociedade do status” e Spencer de “sociedade militar”. As classes ou castas dominantes governam pela conquista e pela imposição do medo. 

A Velha Ordem teve seu domínio abalado pela expansão da indústria e do comércio que começou a aparecer entre os diversos feudos. Outros fatores foram: revoluções inglesas do século XVII, a Revolução Norte-Americana e a Revolução Francesa. Estas abriram caminho para o florescimento da indústria na Inglaterra e o surgimento do laissez-faire, da separação entre igreja e o estado e da paz internacional. A sociedade de status deu, em parte, lugar à “sociedade do contrato”; a sociedade militar foi parcialmente substituída pela “sociedade industrial”.

O liberalismo trouxe para o Ocidente não apenas a liberdade, a perspectiva de paz e os padrões de vida ascendentes de uma sociedade industrial, mas, talvez acima de tudo, trouxe esperança, a esperança num progresso cada vez maior, que tirou a maior parte da humanidade de sua imemorial fossa de estagnação e desesperança.

A consequência deste cenário foi o surgimento de duas ideologias políticas: liberalismo (progresso, revolução industrial...) e conservantismo (restaurar a hierarquia, a exploração...). Liberalismo é a Nova Ordem; o conservantismo, a Velha Ordem. Poder-se-ia situar o liberalismo na “extrema esquerda” e o conservantismo na “extrema direita” do espectro ideológico.

Qual a causa do declínio do liberalismo radical? 1) abandono da teoria dos direitos naturais e da “lei maior” em favor do utilitarismo; 2) evolucionismo ou darwinismo social.

Sobre o darwinismo social, Rothbard diz: “O darwinista social contemplou a história e a sociedade de maneira distorcida, através das lentes pacíficas e róseas da evolução social infinitamente lenta, infinitamente gradual. Ignorando o fato básico de que jamais na história uma casta dominante abriu mão de seu poder de forma voluntária e que, por conseguinte, o liberalismo teria de abrir caminho por meio de uma série de revoluções, os darwinistas sociais puseram-se a esperar com placidez e alegria que se passassem os milhares de anos de uma evolução infinitamente gradual rumo à etapa seguinte, e supostamente inevitável, do individualismo”.

Na lacuna criada pelo esvaziamento do liberalismo radical, introduziu-se um novo movimento: o socialismo. O socialismo era um movimento confuso. Era de cunho intermediário, e ainda o é, por tentar alcançar fins liberais pelo uso de meios conservadores. “O socialismo aceitou o sistema industrial e as metas liberais de liberdade, razão, mobilidade, progresso, padrões de vida mais elevados para o povo, e um basta à tecnocracia e à guerra; mas tentou chegar a esses fins utilizando meios conservadores, incompatíveis com eles: estatismo, planejamento centralizado, comunitarismo etc.”.

Daí, as duas tendências do socialismo: uma corrente de direita, autoritária, desenvolvida a partir de Saint-Simon, que glorificava o estatismo, a hierarquia e o coletivismo. A outra era a corrente de esquerda, relativamente liberal representada por Marx e Bakunin. Inicialmente, o conceito de "luta de classes" não se referia a empresários versus operários, mas àqueles que têm função produtiva na sociedade (abrangendo livres-empresários, operários, camponeses etc.) versus classes exploradoras que constituíam o aparelho estatal e eram por ele privilegiadas.

“Marx e Bakunin adotaram essa linha dos saint-simonianos, do que resultou uma profunda desorientação de todo o movimento socialista de esquerda; pois passou então a ser supostamente necessário, além de destruir o estado repressor, abolir a propriedade dos meios de produção pelo capitalista privado. Ao rejeitar a propriedade privada, e especialmente o capital, os socialistas de esquerda tornavam-se presas de uma contradição interna crucial: se o estado deve desaparecer após a revolução (de imediato, para Bakunin; por um “definhamento” gradual, segundo Marx), como poderá então o “coletivo” gerir sua propriedade, sem que ele próprio se transforme num gigantesco estado de fato, ainda que não nominalmente? Esta é uma contradição que nem os marxistas nem os bakuninistas foram jamais capazes de resolver”.  

Fonte de Consulta 

MURRAY, Rothbard N. Esquerda e Direita: Perspectivas para a LiberdadeTradução de: Maria Luiza X. de A. Borges. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.


Nenhum comentário: