A Velha Ordem é caracterizada pela tirania, a exploração, a estagnação, as castas estanques, a fome etc. Ela existiu na Europa Ocidental antes do século XVIII (e continua a existir fora do Ocidente). Podemos encontrá-la no feudalismo ou no despotismo oriental. Pode-se dizer que a vida era “sórdida brutal e curta”. Maine denominou-a de “sociedade do status” e Spencer de “sociedade militar”. As classes ou castas dominantes governam pela conquista e pela imposição do medo.
A Velha Ordem teve seu domínio abalado pela expansão da
indústria e do comércio que começou a aparecer entre os diversos feudos. Outros
fatores foram: revoluções inglesas do século XVII, a Revolução Norte-Americana
e a Revolução Francesa. Estas abriram caminho para o florescimento da indústria
na Inglaterra e o surgimento do laissez-faire,
da separação entre igreja e o estado e da paz internacional. A sociedade de status deu, em parte, lugar à “sociedade
do contrato”; a sociedade militar foi parcialmente substituída pela “sociedade
industrial”.
O liberalismo trouxe para o Ocidente não apenas a
liberdade, a perspectiva de paz e os padrões de vida ascendentes de uma
sociedade industrial, mas, talvez acima de tudo, trouxe esperança, a esperança
num progresso cada vez maior, que tirou a maior parte da humanidade de sua
imemorial fossa de estagnação e desesperança.
A consequência deste cenário foi o surgimento de duas
ideologias políticas: liberalismo (progresso, revolução industrial...) e
conservantismo (restaurar a hierarquia, a exploração...). Liberalismo é a Nova
Ordem; o conservantismo, a Velha Ordem. Poder-se-ia situar o liberalismo na
“extrema esquerda” e o conservantismo na “extrema direita” do espectro
ideológico.
Qual a causa do declínio do liberalismo radical? 1) abandono
da teoria dos direitos naturais e da “lei maior” em favor do utilitarismo; 2)
evolucionismo ou darwinismo social.
Sobre o darwinismo social, Rothbard diz: “O darwinista social contemplou a história e a
sociedade de maneira distorcida, através das lentes pacíficas e róseas da
evolução social infinitamente lenta, infinitamente gradual. Ignorando o fato
básico de que jamais na história uma casta dominante abriu mão de seu poder de
forma voluntária e que, por conseguinte, o liberalismo teria de abrir caminho
por meio de uma série de revoluções, os darwinistas sociais puseram-se a
esperar com placidez e alegria que se passassem os milhares de anos de uma
evolução infinitamente gradual rumo à etapa seguinte, e supostamente
inevitável, do individualismo”.
Na lacuna
criada pelo esvaziamento do liberalismo radical, introduziu-se um novo
movimento: o socialismo. O socialismo era um movimento confuso. Era de cunho
intermediário, e ainda o é, por tentar alcançar fins liberais pelo uso de meios conservadores. “O socialismo
aceitou o sistema industrial e as metas liberais de
liberdade, razão, mobilidade, progresso, padrões de vida mais elevados para o
povo, e um basta à tecnocracia e à guerra; mas tentou chegar a esses fins utilizando
meios conservadores, incompatíveis com eles: estatismo, planejamento
centralizado, comunitarismo etc.”.
Daí, as
duas tendências do socialismo: uma corrente de direita, autoritária,
desenvolvida a partir de Saint-Simon, que glorificava o estatismo, a hierarquia
e o coletivismo. A outra era a corrente de esquerda, relativamente liberal
representada por Marx e Bakunin. Inicialmente, o conceito de "luta de classes" não se referia a empresários
versus operários, mas àqueles que têm função produtiva na sociedade (abrangendo
livres-empresários, operários, camponeses etc.) versus classes exploradoras que
constituíam o aparelho estatal e eram por ele privilegiadas.
“Marx e Bakunin
adotaram essa linha dos saint-simonianos, do que resultou uma profunda
desorientação de todo o movimento socialista de esquerda; pois passou então a
ser supostamente necessário, além de destruir o estado
repressor, abolir a propriedade dos meios de produção pelo capitalista privado.
Ao rejeitar a propriedade privada, e especialmente o capital, os socialistas de
esquerda tornavam-se presas de uma contradição interna crucial: se o estado
deve desaparecer após a revolução (de imediato, para Bakunin; por um
“definhamento” gradual, segundo Marx), como poderá então o “coletivo” gerir sua
propriedade, sem que ele próprio se transforme num gigantesco estado de fato,
ainda que não nominalmente? Esta é uma contradição que nem os marxistas nem os
bakuninistas foram jamais capazes de resolver”.
Fonte de Consulta
MURRAY, Rothbard N. Esquerda e Direita: Perspectivas para a Liberdade. Tradução de: Maria Luiza X. de A. Borges. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.
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