A Cidade
de Deus, de Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, exerceu sobre a
história das doutrinas uma das mais diversas e duráveis influências. Ela
fascinou a Idade Média. Ela inspirou Bossuet em seu Discours sur
l’histoire universelle. Foi conservada por Augusto Comte no catálogo de
sua Bibliothèque positive. Suscitou até o século XX o interesse
vivo dos historiadores filósofos e teólogos.
O pensamento político contido na Cidade de
Deus forja-se no encontro de duas tradições: a da cultura greco-romana
e a das Escrituras judaico-cristãs. Da Antiguidade grega Agostinho retém as ideias
de Platão (República e Leis). Traça, assim, os planos de uma cidade
ideal, a Cidade de Deus, em contrapartida com a da cidade terrestre, em que
predominam a guerra, a injustiça, o egoísmo etc. Para ele, a verdadeira
administração de uma cidade deve estar baseada na justiça, e esta por sua vez
na caridade, ensinada por Cristo.
Para Agostinho, os indivíduos pertencem sempre a um
grupo-família, cidade, reino ou império. Isso é um fato essencial: a relação de
cada homem com a sociedade é tão estreita quanto a de uma letra com a frase.
Mas a palavra civitas não significa apenas "cidade":
significa também o Estado Imperial. Logo, a existência de um grupo supõe, para
Agostinho, um acordo de base — qualquer que seja o objeto — e revela, por isso
mesmo, uma disposição fundamental do ser humano.
Sua teologia da história política é dada pela
sucessão de seis épocas: de Adão ao Dilúvio; do Dilúvio a Abraão; de Abraão a
Davi; de Davi à deportação para a Babilônia; dessa deportação ao nascimento de
Cristo; e, por fim, desse acontecimento ao fim dos tempos, que será ele próprio
o advento de um "sétimo dia". Para Agostinho, Cristo inaugurou uma
nova época: com sua morte redentora na cruz, ofereceu às cidades terrestres a
oportunidade de se converterem à Cidade de Deus.
Há muitas interpretações da Cidade de Deus. Alguns
falam em terceira cidade, outros comparam a Cidade de Deus à Cidade do diabo.
Outros ainda transcendem-na ao estado de uma Cidade celeste, ou seja, nesta
cidade os indivíduos buscam a perfeita harmonia com as leis de Deus. Por isso,
o indivíduo quando colocado num cargo público deveria sacrificar os seus
interesses pessoais em prol do bem público, o verdadeiro bem celestial.
O pano de fundo de sua obra é o da eterna luta
entre o bem e o mal. Ceder aos apetites da cidade terrestre é um mal; agir de
acordo com os preceitos da Cidade de Deus, um bem que deve ser procurado a
qualquer custo.
Fonte de Consulta
CHÂTELET, F., DUHAMEL, O. e PISIER, E. Doutrina de
Obras Políticas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1993.
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