Deem-me "fatos" e
não "teorias" é a queixa que mais frequentemente se
ouve. A queixa pode ser justificada em protesto contra as teorias que não têm
base nos fatos, mas usualmente cresce em função da incompreensão do
relacionamento entre os fatos e as teorias. Contudo, para se chegar a um
conhecimento profundo de um objeto, deve-se empreender maciços estudos
teóricos.
Suponhamos, por exemplo, a compra de manteiga feita
pela Senhora X. Para o economista, o fato relevante é a quantidade de manteiga
recebida e o dinheiro gasto pela Senhora X, ou seja, taxa de troca
estabelecida. O sorriso e a amabilidade do vendedor somente serão importantes
se tiverem alguma influência na diminuição do preço da manteiga, quando
comparado com outros estabelecimentos de venda do referido produto.
Suponhamos, também, que Oliver Cromwell tem uma
verruga na ponta do seu nariz. Mas o que constitui este suposto
"fato"? Para o químico é uma certa aglomeração de átomos e moléculas.
Para o biólogo é uma certa impropriedade no comportamento das células. Para o
psicólogo pode ser a chave para o conhecimento do caráter comportamental de Cromwell.
Para o economista, o fato não tem significação nenhuma, a não ser quando ele
tenciona despender alguns dólares na sua remoção. Qual é o fato sobre a
verruga? Pode ser qualquer um dos acima citados, dependendo do esquema de
interpretação adotado.
Tomemos, ainda, o exemplo da Senhora X que foi à
mercearia comprar manteiga. Para o economista, como dissemos, o que vale é o
preço e a quantidade de manteiga comprada. Para o oficial da saúde pública, o
que interessa é verificar a composição química e bacteriológica da manteiga.
Para o numismático, o que vale é observar as inscrições das moedas
transacionadas. Como aqueles que dizem quero "fatos" e não
"teorias", arrumar-se-iam para explicar os diferentes ponto de vista
sobre o mesmo fato?
Na realidade, para observar com êxito, precisamos
dos fatos que se escondem atrás dos objetos. Isso faz-nos selecionar. A nossa
escolha é importante, porque ela mostra a estrutura mental que está atrás do
conteúdo do fato observado. Dessa forma, o verdadeiro conceito de relevância implica
a existência de uma teoria, porque os fatos serão relevantes somente em relação
a algum corpo de princípios. Sem isso, caímos na verbosidade das palavras
vazias.
Observemos fielmente os objetos. Não esperemos que
os outros tenham a mesma visão que a nossa. O importante é dar a nossa
contribuição ao fato. Somente assim construiremos um sólido edifício dos
conhecimentos verdadeiros.
Fonte de Consulta
BOULDING, K. E., Economic Analysis.
USA, Harper & Brothers, 1941.
Nenhum comentário:
Postar um comentário