15 outubro 2005

Desvalorização e Especulação

O dinheiro é meio de troca e não sinônimo de riqueza. Se o seu valor permanecer constante, a economia ganha com isso, pois os contratos poderão ser feitos a longo prazo, sem que haja grandes malabarismos para se prever o que acontecerá no futuro. Isso significa que produtores e consumidores podem fazer seus planejamentos sem pressa, buscando o melhor preço, e sem precisar correr para comprar aqui ou ali. Aumentando, porém, o fluxo monetário, o sistema econômico pode se desorganizar porque, aquele que começa remarcando o preço, acaba levando vantagem sobre os demais.

A desvalorização do dinheiro é feita pelo governo com o intuito de transferir poupanças privadas para os cofres públicos. Faz-se muitas vezes por ignorância e outras vezes por incompetência. Observe que as grandes guerras mundiais produziram inflação, desorganizaram o sistema de produção e deram origem ao aparecimento do especulador. O especulador surge como consequência da desvalorização e não como causa. A causa é a má administração financeira do governo.

O Brasil, em meados de janeiro de 1999, desvalorizou o real. Oficialmente em 30%, porém a oscilação do mercado fê-lo chegar aos 80%. O bode expiatório é o especulador. Mas tem ele culpa? Até certo ponto, sim; porém, se não o fizer, poderá perder a sua fatia do mercado e sucumbir. Como o primeiro impacto é um descrédito do governo, muitos são os comerciantes que estão com suas lojas paradas, esperando o que vai acontecer. Por isso, diz-se que "prudência e caldo de galinha não faz mal a ninguém.

Onde buscar as origens da desvalorização cambial brasileira? Observe que quando foi implantado o plano de estabilização do real, deixou-se o mercado ajustar os preços relativos através da URV. Esperava-se estancar a cultura inflacionária brasileira e começar uma nova vida, com moeda nova. Esse era o início; depois, dever-se-ia complementar com as reformas tributária, previdenciária e política. A etapa seguinte não foi feita a contento. Consequência: ficamos todo esse tempo pagando juros altos e vendo nossa dívida interna e externa aumentar desmesuradamente.

A intenção do governo foi boa, ou seja, estancar a ciranda inflacionária; a realidade, outra. É que o custo Brasil ficou alto. As reformas que não foram feitas obrigaram-nos a segurar a estabilidade do real através da âncora cambial, que a grosso modo é valorizar o real em relação ao dólar. Mas isso a um custo altíssimo, pois chega uma hora em que os capitais externos, principalmente, os especulativos já não entram com muita facilidade. Premido por todos os lados, o governo cede ao mercado, e deixa o câmbio flutuar. E deu no que deu: todos falando do dólar.

Governar em tempos de calmaria é fácil. Contudo, o valor de um governante nunca é lembrada pelas proezas da facilidade, mas reconhecida por vencer no mar alto das grandes dificuldades.

 

 

 

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