O dinheiro é meio de troca e não sinônimo de
riqueza. Se o seu valor permanecer constante, a economia ganha com isso, pois
os contratos poderão ser feitos a longo prazo, sem que haja grandes
malabarismos para se prever o que acontecerá no futuro. Isso significa que
produtores e consumidores podem fazer seus planejamentos sem pressa, buscando o
melhor preço, e sem precisar correr para comprar aqui ou ali. Aumentando, porém,
o fluxo monetário, o sistema econômico pode se desorganizar porque, aquele que
começa remarcando o preço, acaba levando vantagem sobre os demais.
A desvalorização do dinheiro é feita pelo governo
com o intuito de transferir poupanças privadas para os cofres públicos. Faz-se
muitas vezes por ignorância e outras vezes por incompetência. Observe que as
grandes guerras mundiais produziram inflação, desorganizaram o sistema de
produção e deram origem ao aparecimento do especulador. O especulador surge como
consequência da desvalorização e não como causa. A causa é a má administração
financeira do governo.
O Brasil, em meados de janeiro de 1999,
desvalorizou o real. Oficialmente em 30%, porém a oscilação do mercado fê-lo
chegar aos 80%. O bode expiatório é o especulador. Mas tem ele culpa? Até certo
ponto, sim; porém, se não o fizer, poderá perder a sua fatia do mercado e
sucumbir. Como o primeiro impacto é um descrédito do governo, muitos são os
comerciantes que estão com suas lojas paradas, esperando o que vai acontecer.
Por isso, diz-se que "prudência e caldo de galinha não faz mal a ninguém.
Onde buscar as origens da desvalorização cambial
brasileira? Observe que quando foi implantado o plano de estabilização do real,
deixou-se o mercado ajustar os preços relativos através da URV. Esperava-se
estancar a cultura inflacionária brasileira e começar uma nova vida, com moeda
nova. Esse era o início; depois, dever-se-ia complementar com as reformas
tributária, previdenciária e política. A etapa seguinte não foi feita a
contento. Consequência: ficamos todo esse tempo pagando juros altos e vendo
nossa dívida interna e externa aumentar desmesuradamente.
A intenção do governo foi boa, ou seja, estancar a
ciranda inflacionária; a realidade, outra. É que o custo Brasil ficou alto. As
reformas que não foram feitas obrigaram-nos a segurar a estabilidade do real
através da âncora cambial, que a grosso modo é valorizar o real em relação ao
dólar. Mas isso a um custo altíssimo, pois chega uma hora em que os capitais
externos, principalmente, os especulativos já não entram com muita facilidade.
Premido por todos os lados, o governo cede ao mercado, e deixa o câmbio
flutuar. E deu no que deu: todos falando do dólar.
Governar em tempos de calmaria é fácil. Contudo, o
valor de um governante nunca é lembrada pelas proezas da facilidade, mas
reconhecida por vencer no mar alto das grandes dificuldades.
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