O que é uma cidade? Há diferença entre a cidade grega e a nossa? O que é
o cidadão? O cidadão grego é muito diferente do cidadão brasileiro? Que tipo de
transformação esses conceitos sofreram ao longo do tempo? Na sociedade
organizada quem deve mandar e quem deve obedecer? Todos os homens podem fazer
parte do governo? Que tipo de governo é o mais justo? Eis algumas questões que
nos auxiliam a introduzir o tema.
Para os gregos da Antiguidade, a cidade tinha uma dimensão diferente da
atual, pois elas se fundamentavam na cidade-estado (proveniente da polis),
e associava-se, primeiramente, à imagem de uma extrema fragmentação política,
circunscrita aos limites de um território reduzido, formada apenas de uma área
urbana e seus arredores rurais. A comunidade cidadã distinguia-se do resto dos
habitantes, que não eram considerados como elementos integrantes do Estado:
escravos, estrangeiros e, sob certos aspectos, as mulheres. O cidadão, além de
requerer um vínculo de parentesco, caracterizava as pessoas que detinham algum
tipo de poder, especialmente os magistrados.
Para Aristóteles, a prudência, a justiça e a igualdade, ou seja, as
virtudes do homem de bem tinham que ser colocadas em função da forma política.
Se existem inúmeras formas de governo, não é possível que seja uma e perfeita a
virtude do bom cidadão. Ele estava querendo explicar que um ato bom, no regime
democrático, pode não o ser no regime aristocrático e vice-versa. É que esses
governos podem descambar para os vícios: da realeza pendemos para a tirania,
que é governar segundo o interesse do monarca; da aristocracia pendemos para a
oligarquia, que é governar em favor dos mais ricos; da democracia pendemos para
a demagogia, que é governar em favor dos pobres.
Ao relacionar cidade, cidadão, Estado e governo, Aristóteles está também
discutindo quem deve mandar e quem deve obedecer na sociedade. Para ele, quem
deve mandar é o cidadão, pessoa eminente que possui poder e autoridade. Nesse
sentido, defende a tese de que a educação de quem manda deve ser diferente da
de quem obedece. Por que? Os requisitos de prudência, de coordenação e de
organização do conjunto são totalmente diferentes daquele que simplesmente vai
receber uma ordem, sem precisar de pensar se é boa ou não. Acrescenta ainda que
"quem quer mandar deve antes aprender a obedecer".
A relação entre bem público e bem privado também foi discutida.
Aristóteles reitera que quem advoga em causa própria nem sempre é bom juiz. Em
virtude da tendência humana de defender os bens particulares, ele afirma que
somente aquele que tiver alto sentimento poderá governar com
êxito, e saberá distinguir entre os dois tipos de bens. O Estado, como entidade
jurídica, nada mais faz do que sopesar os prós e os contras e decidir por uma
situação de equilíbrio, evitando os ganhos excessivos de uns em detrimento dos
menos favorecidos.
A cidade é o local preferido dos pensadores gregos. É ali, no centro da
comunidade, que eles podem colocar suas teses, discuti-las, verificar as
divergências e chegar a um consenso no sentido de oferecer a maior felicidade a
um maior número de pessoas.
Fonte de Consulta
ARISTÓTELES. Política. Tradução de Torrieri Guimarães. São
Paulo, Martin Claret, 2002.
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