02 julho 2008

Cidade Grega: Quem Manda e Quem Obedece

O que é uma cidade? Há diferença entre a cidade grega e a nossa? O que é o cidadão? O cidadão grego é muito diferente do cidadão brasileiro? Que tipo de transformação esses conceitos sofreram ao longo do tempo? Na sociedade organizada quem deve mandar e quem deve obedecer? Todos os homens podem fazer parte do governo? Que tipo de governo é o mais justo? Eis algumas questões que nos auxiliam a introduzir o tema.

Para os gregos da Antiguidade, a cidade tinha uma dimensão diferente da atual, pois elas se fundamentavam na cidade-estado (proveniente da polis), e associava-se, primeiramente, à imagem de uma extrema fragmentação política, circunscrita aos limites de um território reduzido, formada apenas de uma área urbana e seus arredores rurais. A comunidade cidadã distinguia-se do resto dos habitantes, que não eram considerados como elementos integrantes do Estado: escravos, estrangeiros e, sob certos aspectos, as mulheres. O cidadão, além de requerer um vínculo de parentesco, caracterizava as pessoas que detinham algum tipo de poder, especialmente os magistrados.

Para Aristóteles, a prudência, a justiça e a igualdade, ou seja, as virtudes do homem de bem tinham que ser colocadas em função da forma política. Se existem inúmeras formas de governo, não é possível que seja uma e perfeita a virtude do bom cidadão. Ele estava querendo explicar que um ato bom, no regime democrático, pode não o ser no regime aristocrático e vice-versa. É que esses governos podem descambar para os vícios: da realeza pendemos para a tirania, que é governar segundo o interesse do monarca; da aristocracia pendemos para a oligarquia, que é governar em favor dos mais ricos; da democracia pendemos para a demagogia, que é governar em favor dos pobres.

Ao relacionar cidade, cidadão, Estado e governo, Aristóteles está também discutindo quem deve mandar e quem deve obedecer na sociedade. Para ele, quem deve mandar é o cidadão, pessoa eminente que possui poder e autoridade. Nesse sentido, defende a tese de que a educação de quem manda deve ser diferente da de quem obedece. Por que? Os requisitos de prudência, de coordenação e de organização do conjunto são totalmente diferentes daquele que simplesmente vai receber uma ordem, sem precisar de pensar se é boa ou não. Acrescenta ainda que "quem quer mandar deve antes aprender a obedecer".

A relação entre bem público e bem privado também foi discutida. Aristóteles reitera que quem advoga em causa própria nem sempre é bom juiz. Em virtude da tendência humana de defender os bens particulares, ele afirma que somente aquele que tiver alto sentimento poderá governar com êxito, e saberá distinguir entre os dois tipos de bens. O Estado, como entidade jurídica, nada mais faz do que sopesar os prós e os contras e decidir por uma situação de equilíbrio, evitando os ganhos excessivos de uns em detrimento dos menos favorecidos.

A cidade é o local preferido dos pensadores gregos. É ali, no centro da comunidade, que eles podem colocar suas teses, discuti-las, verificar as divergências e chegar a um consenso no sentido de oferecer a maior felicidade a um maior número de pessoas.

Fonte de Consulta

ARISTÓTELES. Política. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo, Martin Claret, 2002.

 

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